quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

COMO MEDIR A QUALIDADE DE VIDA?

Qualidade de vida é uma espécie de conceito que muitas vezes parece intangível.

Há muitas formas de entender qualidade de vida, mas a essência tem haver com a saúde física e mental envolvendo padrões de avaliação científicos, mas também relacionados a sensação de bem estar com o meio em que vivemos. Neste contexto poderíamos estabelecer critérios de diferenciação entre qualidade de vida individual e coletiva.

É muito difícil estabelecer uma nota ou um número para medir qualidade de vida como se faz, por exemplo, no PIB ou no IDH. Porém, mesmo que não haja uma classificação, sabemos que é algo real e concreto.

Existem pesquisas científicas sobre qualidade de vida em nível de especialização como na área da saúde, mas é no viver em cidades, no sentido de coletividade, que o tema toma proporções maiores e mais polêmicas. De um ponto de vista simplista poderíamos avaliar qualidade de vida comparando itens que melhoram e pioram a vida das pessoas. Sabe-se, por exemplo, que o consumo não pode ser classificado como um item que melhora muito a qualidade de vida.

- “Buscar felicidade no consumo é como urinar nas calças para se aquecer num dia frio de inverno. Provê apenas uma breve sensação de calor”, é o que diz o Manifesto pela Política da Felicidade, da organização de pesquisa independente Demos, da Finlândia.

Portanto, muitas vezes não é apenas o dinheiro ou a disponibilidade de recursos financeiros que estabelecem padrões de qualidade de vida. Podemos citar a China, onde algumas cidades experimentam um alto grau de crescimento econômico mas, paralelamente, são as cidades mais poluídas do mundo com altas taxas de mortalidade por doenças respiratórias.

A imensa maioria das pessoas que administram o mundo ignora os conceitos de qualidade de vida na definição de políticas públicas. Em geral, poucos são os governantes ou políticos que entendem, leram trabalhos científicos sobre o assunto ou visitaram cidades que experimentam o estado da arte no desenvolvimento sustentável com objetivo precípuo de melhorar a qualidade de vida coletiva. Em geral, são absolutamente leigos ou ignorantes neste tema, porém são experts em estabelecer e criar impostos, novas forma de receitas e medir o PIB como única fórmula de entender desenvolvimento. È deste entendimento torpe que surgem adjetivos como “pujança”, voltado apenas a valores materiais e financeiros, numa alusão a força e poder que são elementos duvidosos se voltados à qualidade de vida.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

TERRA PROMETIDA


Vivemos numa terra prometida
Que há muito tempo
Deixou de ser oásis
Dela só restam cicatrizes
E nas paredes tatuagens


Nesse deserto sem areia
Injustiça seja feita
A cada dia da ganância
Surge uma nova seita
E da falta de esperança
Aquele que cala e aceita
Se esperar é a questão
Dias melhores não virão
É hora de nós mesmos
Recolhermos os brinquedos do chão


A ameaça não é mais
Só um ataque nuclear
É a política de terra arrasada
Da espécie abençoada
É o instinto de destruição
Moldando o mundo a sua feição

Música: Capital Inicial

Composição: Mark Rossi, Loro Jones & Fê Lemos

UFSC, DUPLICAÇÃO DA BR280, AEROPORTO DE ARAQUARI, HIDROVIA DO CACHOEIRA, PARQUES DE JOINVILLE, PRÉ-SAL...

Todo dia temos uma novidade nos jornais que podem ser classificadas em promessas e mentiras. Toda a promessa recebe holofotes e, toda a mentira vai para o rodapé das páginas dos jornais, mostrando bem como funciona a verba da publicidade governamental. Quem são os protagonistas? Os políticos que elegemos, é claro!

O campus da UFSC na curva do arroz já deveria estar quase concluída, segundo os políticos, aqueles que se atreveram a fazer esta promessas e cuja única certeza até o momento foi a escolha de um local impróprio e a realização de uma desapropriação superfaturada, segundo denúncia do Ministério Público que transita na justiça.  
A duplicação da BR 280 já foi anunciada em vários momentos pré-eleitorais mas, nunca saiu do papel, ou melhor, nem no papel está. A poucos dias um representante do DNIT afirmava, para a imprensa e alguns empresários que as obras iniciariam em março de 2011. Hoje, os jornais anunciaram que a concorrência da obra foi suspensa pelo DNIT sem qualquer explicação ou nova data.
O mega aeroporto de Araquari também foi anunciado. Até decreto de desapropriação foi feito com pompa e circunstância mas, logo em seguida, foi suspenso simplesmente porque o mesmo governo que fez o decreto não dispõe de dinheiro. Até teve candidato a deputado federal que usou o pretenso aeroporto como plataforma de campanha mas, com os votos que conseguiu, sequer conseguiria eleger-se vereador em sua cidade natal.
A hidrovia do Cachoeira gastou o dinheiro público numa estação de passageiros (uma espécie de abrigo de onibus de luxo que custou aos cofres públicos 250 mil reais) e hoje serve somente de morada a indigentes. Com o valor da estação daria para construir 5 aptos do Minha Casa Minha Vida e abrigar descentemente 5 famílias. Gastaram o dinheiro público na dragagem e balizamento de um esgoto a céu aberto que poucos dias após já não mais permitia a passagem de canoas a remo. Fizeram o oba-oba, torraram milhares de reais e, os portagonistas sumiram como por encanto, e não foram de "jetbosta", porque senão encalhava na merda.
Os parques de Joinville são outro exemplo de que no papel e no discurso tudo é lindo e maravilhoso mas na prática nada acontece e, por conta desta incapacidade, inaugurar uma mera reforma de calçada vira a obra do ano.
O que acontece por aqui é um extrato do que acontece no Brasil. Muita promessa e muita mentira que se transforma em plataforma para cooptar votos dos otários que ainda acreditam e são convencidos neste faz-de-conta sem fim. O mais deprimente é que se a mentira for denunciada e persista, será debitada aos inimigos a culpa por ela não se tornar realidade.

E eis que o PRÉ-SAL parece ter mais sal do que petróleo... Então, vamos invetar o carro a sal? Enfim, quem vai ser o culpado pelas mentiras?


domingo, 12 de dezembro de 2010

O Que é Necessário para Dirigir os Destinos de uma Cidade

Um empresário de sucesso no transporte logístico afirma que se ele não tivesse sido caminhoneiro, conhecesse em detalhes o funcionamento e a mecânica do caminhão, a melhor forma de conduzir ou dirigir com segurança bem como as necessidades que os motoristas tem ao longo da sua jornada, certamente não teria o sucesso que tem ao longo de 54 anos da sua empresa.

Hoje, sua empresa dispõe de uma frota com mais de 1.400 caminhões rodando o país mas para isto, além da sua experiência,  necessita de sofisticados sistemas de monitoramento e rastreamento além de estruturas de apoio espalhadas no país.

Os caminhões agregam cada vez mais tecnologia implicando na formação contínua dos profissionais, sejam mecânicos, engenheiros ou motoristas. Não apenas isto, no Brasil o caminhão é o principal meio de transporte das nossas riquezas. No entanto, o cotidiano é difícil e muitas vezes cruel, pois nossas estradas são vergonhosas assim como a grande maioria dos veículos e motoristas, sem manutenção e formação, respectivamente.

Segundo este amigo empresário, o fundamental do seu negócio é, em primeiro lugar, o ser humano e em seguida o equipamento, ter o caminhão em boas condições de segurança. Para isto é necessário muito treinamento e cuidado.

Nenhum dos seus motoristas irá dirigir um caminhão de maior porte e sofisticação sem antes passar pela base do conhecimento dos veículos menores, a mecânica, conhecimentos sobre direção defensiva, geografia das rodovias brasileiras, etc.

Foi justamente ele que disse-me um dia, quando falávamos sobre a política brasileira, que todos os políticos deveriam passar obriatoriamente por estágios de formação demonstrando estarem aptos para chegar aos postos mais altos e de responsabilidade, assim como os motoristas da sua empresa.

Na experiência de vida dele, somente pessoas habilitadas poderiam conduzir veículos mais pesados e sofisticados, ou ainda alcançar cargos de gerência, pois qualquer acidente ou falha gera grandes prejuízos e vítimas.

Levado a pensar nestas considerações vejo que muitos administradores neste país nunca dirigiram qualquer coisa, e acabam por ser responsáveis pela condução dos destinos de cidades, empresas públicas, estados ou mesmo o país. Não é a toa que temos tantos acidentes de percurso, despreparo na condução da coisa pública gerando prejuízos, desperdícios e muitas vítimas, fruto da incapacidade ou falta de experiência.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

34 anos do Calçadão da Felipe Schmidt - (blog do canga)

Na emblemátida data de 11/01/2011 o Calçadão da Felipe Schmidt, principal rua de Florianópolis, completa 34 anos. Localizada no Centro Histórico da capital, possui prédios antigos e arquitetura preservada do século XVIII e XIX.


O café Ponto Chic, ou Senadinho como era conhecido popularmente, foi o tradicional ponto de encontro de políticos, jornalistas, futebolistas e mais uma gama de istas da cidade. Centro de fofocas políticas e mundanas, o Senadinho era a caixa de resonância das últimas informações da cidade.


Na frente do Ponto Chic o desenho em petit pavê no chão, que representa um plenário com sete cadeiras, a mesa do presidente e a inscrição "SPQF - Senado Para Qualquer Fofoca".

Texto original postado no: http://cangarubim.blogspot.com/2010/12/34-anos-do-calcadao-da-felipe-schmidt.html
 
 
 
AQUI NÃO!
 
Nesta mesma época em que Florianópolis construía seu calçadão, embalados pelo sucesso da Rua das Flores em Curitiba, Joinville também projetou e implantou o calçadão na Rua do Príncipe, no pequeno trecho compreendido entre as ruas XV de Novembro e Jerônimo Coelho. A diferença é que tanto Curitiba, Floriánópolis e boa parte das cidades do mundo mantém ou ampliam as áreas exclusivas e preferenciais para pedestres, mesmo que alguns poucos comerciantes reclamem.
 
Lamentávelmente, aqui em Joinville retiraram o calçadão ao invés de ampliá-lo. Reabriram a passagem para carros e reduziram o espaço para os pedestres, para as feiras, para a animação. Ao invés de modernizarem, melhorarem a infra-estrutura, a iluminação, os equipamentos urbanos, incentivando a manutenção e preservação dos inúmeros prédios históricos escondidos atrás dos outdoors e frontdoors, deram espaço para o tráfego de automóveis. Pior, trouxeram um desenho urbano pobre, copiado e cinza. Tudo porque aqui é diferente. Aqui as coisas são feitas, me parece, para irritar os munícipes. Não há o menor bom senso e nem sequer uma avaliação mais detalhada das mais consagradas tendências ou mesmo da nossa história. São as pressões de grupos ou os favores políticos que norteiam o desenho da cidade.

Não temos nosso calçadão, nem o nosso senadinho, nem os locais que suscintam atratividade, apesar de estarem ali, escondidos, esperando por uma oportunidade para resplandescerem como no passado.

Hoje, nossa Rua do Príncipe e suas vizinhas ruas são lúgrubes, sem árvores, sem luz, inóspitas e sem alma. Muitas cidades no mundo estão a revitalizar e requalificar suas áreas centrais buscando eliminar o tráfego de veículos e proporcionar a atratividade com espaços amplos, seguros, limpos, cheios de arquitetura e novidades. Aqui não! 

VLT - Tecnologia Nacional entre Crato e Juazeiro CE

O "Metrô do Cariri" como é chamado do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) que liga Crato a Juazeiro do Norte é responsável pela movimentação de aproximadamente 1.200 passageiros por dia, entre Juazeiro do Norte e Crato - ao longo de 13,6 quilômetros.

Além disso, a composição da modal ferroviária para transporte de passageiros foi desenvolvida com tecnologia local pela Empresa Bom Sinal, de Barbalha. “A fabricação das composições estimulou a indústria ferroviária nacional, que não produzia novos trens desde a década de 1970”, garante o governo.

Antonio Chalita de Figueiredo, gerente de Controle e Tráfego da Metrofor (Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos), garante que o sistema proporcionou melhorias significativas à qualidade de vida da população da Região.

"As pessoas ganharam a opção do poder se deslocar num transporte barato (a passagem custa R$ 1,00), seguro, limpo e confortável. Houve ainda a melhoria do entorno das estações", diz.  (http://memoria717.blogspot.com/)

VLT entre JARAGUÁ DO SUL e GUARAMIRIM

Nesta semana foi anunciado pelo grupo técnico da Câmara Temática -PróJaraguá a implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) para transporte de passageiros entre a localidade de Nereu Ramos (Jaraguá do Sul) e Caixa Dágua (Guaramirim) como a alternativa ideal para utilização dos trilhos remanescentes do contorno ferroviário.


A idéia surgiu no governo de Irirneu Passold, vem de encontro a utilização de modos de transporte sustentáveis, de baixo impacto e alto rendimento. Inspirados no modelo utilizado em Crato e Juazeiro do Norte, o grupo técnico apresentou a proposta aos secretários municipais e prefeitos das duas cidades.

Segundo as informações contidas na Folha SC, o VLT também foi uma dos compromissos da atual prefeita Cecília Konell e, é a opção eleita como a mais desejada pelo grupo técnico que compõe o PróJaraguá.

CURIOSIDADES - CIDADE DE HALLSTATT

Hallstatt é uma aldeia em Salzkammergut, uma região na Áustria Alta. Ele está localizada à beira do lago Hallstätter. No censo de 2001 tinha 946 habitantes. A vila também deu seu nome à Idade do Ferro, dando origem a Cultura de Hallstatt, fazendo a localidade ser eleita Patrimônio Cultural da Humanidade pela ONU.
A Cultura de Hallstatt foi a cultura centro-européia predominante durante a Idade do Bronze local, e deu origem à Idade do Ferro. Recebeu este nome pelo sítio arqueológico de Hallstatt.

Em 1846, Johann Georg Ramsauer descobriu um grande cemitério pré-histórico o qual escavou durante a segunda metade do século XIX. Por fim, a escavação produziria 1.045 inumações.

A comunidade de Hallstatt explorava as minas de sal na região, as quais tinham estado em operação intermitente desde o Neolítico (século VIII a.C.) até o século V d.C.. O estilo e a decoração dos bens encontrados nos túmulos do cemitério é bem peculiar, e artefctos no mesmo estilo disseminaram-se por toda a Europa. O sal como um recurso muito valioso fez a região ser historicamente muito rica. É possível fazer uma turnê nas minas de sal, a primeira conhecida no mundo, localizada nas montanhas próximas ao centro de Hallstatt.

Hallstatt é uma atração turística devido ao seu apelo de cidade pequena que pode ser visitada a pé em dez minutos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CURIOSIDADES - ANO 2011 - MMXI

 
2011 (MMXI) é o seguinte ano do calendário gregoriano que se iniciará num sábado. Não sendo um ano bissexto, terá 365 dias. As Nações Unidas designam 2011 como o Ano Internacional das Florestas e o Ano Internacional da Química.

2011 em outros calendários Calendário:

Gregoriano 2011 - MMXI
Ab urbe condita - 2764
Calendário Armênio - 1460
Calendário Chinês - 4707 – 4708
Calendário Hebraico - 5771 – 5772
Calendários Hindus
                   - Vikram Samvat - 2066 – 2067
                   - Shaka Samvat - 1933 – 1934
                   - Kali Yuga - 5112 – 5113

Calendário Persa - 1389 – 1390
Calendário Islâmico - 1432 – 1433
Calendário Rúnico - 2261

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UMA CIDADE QUE DEIXARÁ DE SER BUCÓLICA

Uma definição urbana para BUCÓLICO é: Um lugar de vida que canta as belezas de paisagens coloridas entremeadas por casas bem arranjadas, extensos gramados, jardins floridos, farta arborização, lugares destituídos de grades e muros, onde permeia a ingenuidade dos costumes, o quotidiano tranqüilo, da simplicidade do caminhar em contato com a natureza que contrastam com os sobressaltos, as inquietações, a insegurança, o cinza e o caos dos centros urbanos.

Com as intensas pressões por verticalizar e modificar a características dos ainda poucos bairros bucólicos da cidade de Joinville, estaremos abrindo mão desta identidade que nos deu, num passado não muito distante, uma admirada e invejada qualidade de vida.

Curioso é que joinvillenses de velhas e novas gerações bem como migrantes que escolheram esta cidade para viver, justamente pelas qualidades que o bucolismo suscita, hoje se colocam em favor da especulação imobiliária e do ganho fácil pela mais valia que será viabilizada por aqueles que pagaram para ter sossego, segurança e qualidade de vida.

Seremos reconhecidos pela mesmice de todas as cidades que abriram mão dos seus mais destacados predicados ficando iguais o todas as outras que já não tem mais nenhuma atratividade. Segundo os novos desafetos do bem viver, aqueles que quiserem o bucolismo devem ir morar em Pibeirada. Esta justificativa torpe é compartilhada pelos vereadores da cidade dando-nos a idéia de que deixaremos nosso bucolismo apenas nas fotos promocionais e lembranças.

CACHOEIRA, UM RIO TEIMOSO

Para aqueles que visitam este blog, mas não conhecem Joinville, o Rio Cachoeira é o nosso Tietê, menor em largura e extensão, mas absolutamente idêntico quanto à poluição das águas, ao odor e ao colorido "chernobilesco" que ora é negro, ora marrom e, algumas poucas vezes ao dia, esverdeadas pela influência da maré que adentra seu leito invertendo o sentido da corrente.

Num domingo, em julho de 2009 pela manhã, fui caminhar pelas margens do Rio Cachoeira para dar uma olhada nas figueiras, aquelas árvores frondosas e exóticas que alguns mal intencionados tentam cortar a qualquer custo sob justificativas absurdas e teatrais.

Para minha surpresa descobri que, mesmo moribundo, o rio ainda fornece muita vida, confirmando a importância que a água tem para a sustentabilidade do planeta.

Com uma lamentável e absurda poluição, o Rio Cachoeira ainda serve à muitas espécies como habitat, de onde retiram sustento, fazendo-me imaginar qual seria a imagem espetacular se este rio estivesse limpo. São milhares de litros de esgotos despejados in natura todos os dias, outros milhares de litros de efluentes tóxicos despejados pelas indústrias que ainda não dispõe de um sistema eficiente de tratamento.

O rio também é o maior lixeiro da cidade de Joinville onde toda sorte de resíduos sólidos são jogados em suas águas, dificultando sua vazão, um fato que pode ser facilmente percebido nas milhares de garrafas, sacos e recipientes plásticos que bóiam sobre suas águas. Mais estarrecedor é que nínguém faz nada, seguindo esta incrível mazela a nos envergonhar.

Naquele domingo de julho também conheci o famoso jacaré que habita o rio, nas proximidades da área central da cidade, cujo nome foi dado como "Fritz", certamente uma alusão carinhosa aos nossos primeiros descendentes. 

Imagino que os antepassados do jacaré "Fritz" tivessem conhecido nossos primeiros imigrantes e´, posso também imaginar o tamanho do susto que os primeiros exploradores levaram ao encontrar jacarés por aqui.

Hoje, ao conhecer o "Fritz" tomando seu banho de sol, me abateu uma profunda vergonha e indignação, mesmo sabendo que ele, o jacaré, pode ainda sobreviver solitário nestas águas podres.

Admirado por encontar o jacaré, também me surpreendi com a quantidade de outras espécies de aves e seus filhotes atravessando o fétido rio em busca de alimento. É uma inequivoca demonstração de como a natureza resiste às mazelas do homem.

A regeneração do Rio Cachoeira é urgente. Recuperar a qualidade de suas água certamente irá multiplicar o número de espécies a viverem neste singelo e delicado ambiente ao mesmo tempo que será a maior demosntração da nossa capacidade de resgatar um pouco da natureza já tão maltratada.

Verdadeiramente seria meu maior sonho como joinvillense ver o rio limpo, com seus peixes, pássaros, répteis, crustáceos e toda sorte de fauna que aqui já habitou.

Nossos antepassados e seus descendentes transformaram o Rio Cachoeira numa tragédia ambiental e, como um dos descendentes, não posso me excluir da responsabilidade.

Deixo algumas fotos do passeio dominical que me fez conhecer melhor uma fauna que não reconhecço cientificamente, mas deixou-me absolutamente encantado.

O Rio Cachoeira nasce e morre dentro dos limites urbanos da cidade de Joinville e, na minha modesta opinião e auto crítica, transformou-se na exata expressão da nossa fraca cultura, da ignorância e da nossa pouca educação ambiental. Precisamos urgentemente mudar hábitos, pois só assim podemos mudar o rio. Se conseguirmos, seremos dignos de títulos e merecimentos e, enquanto isto, oremos para que o Rio Cachoeira continue a ser teimoso, mantendo as chances de resgatar sua vitalidade.

Este artigo foi postado originalmente na blog: http://gollnick.blog.terra.com.br/2009/07/19/cachoeira-um-rio-teimoso/

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

CURIOSIDADES - O PORTO DE PARIS

Mesmo distante do mar cerca de 290 km, o Porto de Paris movimentou, em 2009, aproximadamente 21 milhões de toneladas e 1,3 milhões de conteineres. É, em movimentação, o terceiro maior terminal francês superado apenas pelos mega portos de Marselha e Le Havre.

Para efeito de comparação, a movimentação do Porto de Paris supera, em toneladas, a soma das movimentações dos portos catarinenses de São Francisco do Sul, Itajaí, Navegantes e Imbituba.

Incrustado dentro de uma das maiores cidades da Europa, o Porto Autonomo de Paris também é responsável pela regulação e controle do movimento e tráfego de embarcações para passageiros, seja de transporte regular, lazer ou turismo. Ao lado da Praça da Bastilha há uma marina pública que, não fosse a paisagem do entorno, teríamos a sensação de estar numa cidade litorânea.

Enfim, uma curiosiade que pode nos levar a imaginar como poderíamos explorar de forma econômica e sustentável a extensa malha fluvial existente no Brasil, lembrando que as águas do rio Sena tem controle permanente de qualidade ambiental permitindo que seja possível pescar nas suas águas em pleno centro de Paris.

DESCONECTE...

domingo, 5 de dezembro de 2010

É CAMPEÃOOOOOOOOO...

Em 1984 eu estava a três anos formado, vindo recente do Rio para Joinville. Fazia um ano que havia ingressado na equipe de Wittich Freitag, então prefeito de Joinville e, recebi uma ligação do meu amigo Faissal, tricolor desde o feto, que em lagrimas e felicidade comemorava o campeonato brasileiro que o Fluminense havia ganho sobre o Vasco da Gama. Hoje, não consegui falar com o Faissal, mas imagino a sua imensa alegria e emoção com esta conquista, após 26 anos. Valeu Faissal, Valeu FLU, meu time desde os 5 anos de idade!


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TOLO & PALHAÇO, MAS NUNCA OMISSO

Neste último dia primeiro de dezembro, ao chegar na Audiência Pública sobre as mudanças no zoneamento pretendidas pelos vereadores e, o projeto de lei para o Estudo de Vizinhaça, pretendida pelo IPPUJ, encontrei a minha amiga Ingrid Colin Lepper, a quem, nas oficinas do Plano Diretor, apelidei carinhosamente de "Musa do América".

Antes de qualquer conotação vulgar, a musa, na mitologia grega, são entidades a que são atribuidas capacidade de inspirar a criação artística ou científica e, neste sentido, a participação da Ingrid não apenas inspirou-me a ser mais participativo nos temas da minha cidade, mas também a muitos outros amigos que se dispuseram a defender suas idéias sobre Joinville. Ao encontrá-la, e já haviam me antecipado, percebi sua indignação com a minha narrativa entitulada "O América ja Era", postada poucas horas antes do evento neste blog.

Toda a indignação para comigo estava pelo fato de que, ao escrever uma espécie de narrativa, havia feito menção aos "tolos" e "palhaços", dirijida a todos aqueles que se dispunham a ir nas auidências públicas para servirem como massa de manobra dos edis, avalisando avalisando através do instituto da Audiência Pública, as pretenções legislativas nas alterações ou "inovações" legais.

Ela, minha amiga, veementemente me retrucou dizendo que não se considerava palhaça nem sequer tola, ressaltando que nunca foi omissa aos diversos debates e eventos que tratavam de alterar a legislação urbanística no bairro América, especialmente nas inúmeras tentativas de mudanças da zona residencial unifamiliar, as R1. De fato, poucos joinvillenses tiveram tanta disposição e voluntariado a bem de uma causa como a cidadã Ingrid, a qual admiro e respeito e, assim sendo, passo a pedir minhas desculpas se permiti uma compreesão equivocada do meu texto, levando a qualquer demérito ou mau julgamento para com ela e todos os cidadãos que se dispõe voluntariamente (são pouquíssimos) a participar dos debates e audiências públicas sobre a nossa cidade.

De forma absoluta, reitero o meu respeito e admiração aos que se dispõe a esta difícil missão, independente dos interesses, pois nosso país ainda caminha a passos muito curtos no pleno exercício da cidadania.

Minha narrativa foi a de um espectador, alguém que relata e avalia os resultados por conta de um histórico e de situações que se repetem, onde a sociedade se faz presente postulando exaustivamente suas intenções ou causas, por vezes de forma calorosa, não raramente com o vigor e com emoções densas, mas são solenemente ignoradas. A narrativa expõe uma percepção de que, por mais honestas e corretas que sejam os desejos da sociedade, os condutores do processo praticamente as ignoram e, não raramente nos bastidores as ridicularizam, especialmente quando estão a serviço de interesses específicos.

A visão do narrador vem de uma constatação, a de que a platéia não é levada a sério, que apenas serve como finalidade para avalisar atos políticos, numa espécie de "circo". Quando surge a expressão "o circo foi montado" compreendemos como uma forma figurativa de relatar certo acontecimento cuja finalidade é a farsa ou um mal intencionado escambo.

Ao fim da audiência pública do dia 1 de dezembro, onde deixei de lado o papel de narrador para ser participante, ao olhar atentamente nos olhos de quem teve a responsabilidade de conduzir o processo, me senti aquele tolo da narrativa e, sabendo que o resultado já estava premeditado, encarno o palhaço, embora nunca me fizesse omisso.

ZONAS RESIDENCIAS UNIFAMILIARES E A LEI DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Seria possível aplicar o Código de Defesa do Consumidor ao Plano Diretor de Joinville?

Difícil afirmar, mas é certo que a legislação urbanística define parâmetros ocupacionais que nos dão a idéia do que é permitido ou permissível fazer ou empreender num determinado espaço da cidade. O direito a propriedade, segundo a Constituição Federal, deveria prioritáriamente excercer função a social, mas bo Brasil ela apenas é vista como um sagrado direito e, a aquisição de imóvel tem sido regulada pelo mercado e pelas leis que definem seus usos.

Em determinadas regiões os imóveis valem mais ou menos em função dos usos e padrões urbanísticos permitidos, oferta de infra-estrutura, etc., cujo papel principal é do poder público. Se a lei impõe regras e deveres, ela também assegura o direito de usufruí-las. O Artigo 3º e 4º. da Lei 8078 nos dão alguns indícios:

(...)
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
(...)

Portanto, se adquiro uma propriedade (lote ou edificação) numa determinada zona onde estão definidas as finalidades possíveis, elas geram deveres e direitos. Ao adquirir uma propriedade numa determinada zona da cidade é meu dever buscar informações para saber a finalidade social da propriedade e como é possível utilizá-la. Ao mesmo tempo, isto me confere direitos de usufruir desta propriedade dentro dos limites legais a que ela esta jurisdicionada.

Quando discutimos a mudança na Zona Residencial - R1 (unifamliar) em Joinville, debatemos também o respeito aos deveres e direitos dos cidadãos. Assim, proprietários que se dizem injustiçados pela não utilização da propriedade para outras finalidades daquelas estabelecidas em lei, estão apenas buscando excercer seus direitos individuais sobre a propriedade mas esquecem que ela esta sob a égide de um contrato social que´são as leis urbanísticas. E as leis urbanísticas estão todas disponibilizadas ao público através de consultas prévias ou nos sites da Administração Pública.
Querer mudar determinados parâmetros urbanísticos de uma zona ou rua significa, em primeiro lugar, alterar direitos adquiridos daqueles que não desejam a mesma coisa. Pior, quando aqueles que advogam novos parâmetros já transgrediram a lei sob o olhar omisso do poder público, que deveria excercer o poder de polícia, a intenção não deveria sequer prosseguir.

Ficam então algumas perguntas a esta situação:

 Não seria possível alterar usos de regiões da cidade?

Resposta: Sim, é possível e, dependendo das estratégias e planos de desenvolvimento, áreas podem sofrer alterações, mas sob a luz dos novos modelos reguladores urbanísticos é imprescindível que se realizem estudos, avaliações de impacto e audiências públicas, até que se chegue a um verdadeiro consenso onde os interesses coletivos e difusos prevaleçam sobre os interesses individuais.

 A Câmara de Vereadores deve propor alterações de zoneamento e uso do solo por conta de abaixo assinados?

Resposta: Eu creio que a elaboração de leis urbanísticas deveriam ser de exclusiva competência do executivo que dispõe, ou deveria dispor, da instrumentação necessária a avaliação da política urbana, juntamente com o Conselho da Cidade. Mesmo que os vereadores advoguem o direito de independência dos poderes, eles também deveriam avaliar as limitações de conhecimento para realizarem propostas de leis urbanísticas, pois não cabe a eles a definição das políticas urbanas, senão exercer o papel de legislador na apreciação de matérias enviadas pelo executivo a quem caberia a tarefa. Assim, ao se proporem a fazê-la apenas atendem o cunho muito particular e de grande impacto a vida urbana.

 O Código de Defesa do Consumidor pode ser utilizado na defesa dos interesses dos proprietários que adquiriram imóveis nas zonas residências unifamiliares quando se colocam frente a tentativas de mudanças por pequenos grupos?

É algo para pesquisar ou quem sabe propor. Na minha opinião, é possível a aplicabilidade da Lei de Defesa do Consumidor, afinal a compra de um imóvel é algo tangível, tem regras que definem sua utilização e, esta submetida ao mercado consumidor.

Por exemplo: Eu adiquiro um imóvel residencial através de uma empresa de incorporação que na venda me informa de que a zona é unicamente unifamiliar. Dias depois, por conta de pressões de alguns indivíudos e sem um estudo apurada, avaliações de impacto ou consulta, a região sifre uma mudança de usos e padrões. A quem vou reorre? Para que isto seja avaliado, somente com uma ação civil pública junto ao Ministério Público.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O AMÉRICA JÁ ERA...

As constantes mudanças de zoneamento em Joinville estão acabando com os bairros tradicionais da cidade, dentre os quais destaca-se o América, um bairro historicamente residencial cuja relação de qualidade de vida esta associada a baixa densidade, disponibilidade de áreas verdes particulares de grande relevância para o ambiente urbano, uma arquitetura notável, muitas vezes de valor histórico, aquirida ao longo de dezenas de anos por uma relação de vizinhança e harmonia. Se o América é emblemático para Joinville, os demais já não tem mais qualquer identidade significativa.

Nossos mais significativos locais de moradia estão sendo "abduzidos" por alienígenas que promovem uma lavagem cerebral da sociedade extraindo sua memória, tudo justificado por um discurso mentiroso da vinda de "novos empreendimentos qualificados".

Nesta linha, o que podemos esperar para o futuro da cidade?

Nem mesmo uma associação ativa e participante inibe os ataques constantes de especuladores e daqueles que facilitam a vida para os espertos, que vendem dificuldades para gerar facilidades.

Mas não é apenas o América que está sob fogo cruzado. Saguaçu, Santo Antônio, Glória, Atiradores e o cinturão verde da cidade vem sendo o alvo de uma inescrupulosa ação que terá como consequencia a mais perigosa e imprevisível desagregação territorial já protagonizada na história da cidade.

Joinville passou a ser alvo de uma orquestração oriunda dos especuladores históricos, outros novos que estão se instalando, mas e principalmente da impiedosa supressão de nossas mais signidficativas identidades,  abrindo uma avenida de permissividades e oportunidades aos especuladores, que tudo levam e nada deixam.

Somada a fraqueza do poder público local e a legião de "batedores de carteira", a cidade sucumbe de forma rápida ao modelo mais comum da urbe do terceiro mundo, uma cidade sem identidade, sem auto-estima, cujo território passa a ter a lei da "lei nenhuma", maleável a quem manda, aos mais fortes e sem caráter.


Hoje, primeiro de dezembro de 2010, às 19:30 hs na Câmara de Vereadores de Joinville, um novo capítulo desta triste novela será encerrado ou mais propriamente encenado, em audiência pública, conduzida pelos mais recentes "cavaleiros do apocalipse" que voltarão a mentir para uma platéia compostas de palhaços. O circo de hoje terá um espetáculo já conhecido, onde no picadeiro estarão as poltronas destinadas aos tolos, e mesmo que eles venham a se rebelar contra as propostas e decisões para mudar a cidade, o roteiro da encenação do "faz-de-conta" irá se encaminhar para um fim previsível, naquilo que aqui se convencionou chamar de "consulta pública", um esperto "referendum" teatral.

Hoje, o Améria  perderá uma grande e significativa parte de seu território, a região da rua Aquidaban, onde dezenas de famílias construiram suas vidas e garantiram, durante 1 século, o singelo equilíbrio e qualidade de vida invejável, que muitos desejam e não conseguem reconhecer, pois estão sendo destituídos dos verdadeiros valores qualitativos humanos.

Há algum tempo atrás avisei à presidente da AMABA que a luta em prol da manutenção da R1 estava sendo muito elitista e deveria ser ampliada para o bairro como um todo. Não ouviram e estão sendo "comidos pelas beiradas". As mudanças chegarão muito brevemente aos portões bem guardados das elites locais, mas daí já será tarde.

Deus nos ajude!!!!


CALÇADAS - LABORATÓRIO DA CIDADANIA

“Calçadas têm que ser respeitadas como o único espaço vital e insubstituível para cidades seguras, para uma vida pública partilhada, até para criarmos nossas crianças”


(Jane Jacobs, autora de Morte e vida nas grandes cidades)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TREMINHÃO

Você já teve a infeliz ou terrível experiência de ser fechado por um "treminhão"?  Eu já e, não são raras as situações em que isto ocorre na BR 101/SC onde ando com frequencia.  "Treminhão", "biminhão", "bitrem" é o nome de um caminhão tracionando, com dois ou mais reboques, engatados por meio de ralas. Eles têm 30 metros de comprimento e capacidade para carregar até 74 toneladas. Motoristas afirmam que para parar este veículo, na velocidade de 80 km/h, precisam frear cerca de 300 metros.

Nas estradas do Brasil, geralmente estreitas, mal pavimentadas, sem manutenção, com raios de giro fora de padrões técnicos recomendáveis, com sentido duplo onde é comum verifica comboios de três a quatro treminhões somando mais de 150 metros de extensão em baixas velocidades, o risco de acidentes é exponencial. Nas estradas duplicadas o problema se multiplica pelo excesso de velocidade, pois a maioria dos condutores não tem formação para dirigir um veículo deste porte. Em países como a França e Austria, um condutor para ter a permissão de dirigir um veículo "especial", como lá é classificado este padrão de caminhão, leva de 6 a 8 anos de formação até conseguir sua autorização de condutor e a região de tráfego é delimitada e fiscalizada.

De forma ilustrativam um "treminhão" é o mesmo que um prédio de 10 andares deitado.

As resoluções 210 e 211 do Contran representam a legislação quanto aos limites de peso de caminhões e cargas, que aprovou as novas opções de composições à disposição do transportador e pode fazer o “custo-Brasil” diminuir. Impõe poucos requisitos e limites assim como a fiscalização não é exercida quanto aos abusos. Este absurdo é mais um descaso e o exemplo da pressão corporativista dos transportadores como a Fenatram sobre o governo, mesmo sabendo que as estradas não admitem esta modal e os riscos se multiplicam.

É o Brasil de Todos, o país dos que podem e tem dinheiro.

PESTE NEGRA DO SÉCULO

Ontem participei de um seminário de mobilidade urbana em Criciúma onde a intenção é a dissiminação do conceito e soluções de mobilidade num espaçao semi-metropolitano da região carbonífera no sul do estado de SC.

Lá obtive a informação através do diretor da Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, de que no ano de 2010 o ministério fechou convenios no valor de 518 milhões com Santa Catarina. Este é o mesmo valor dos cerca de 12 mil novos veículos que estarão rodando na frota de Joinville neste mesmo ano. Ou seja, somente neste ano Joinville precisaria mais 22 km de vias para acomodar, sem resolver as pendengas do passado, esta nova frota. A um custo de R$ 100/m2 a pavimentação, sem considerar desapropriações, necessitaríamos de 22 milhões de reais para abrir espaço no sistema viário. Se contabilizar um passivo de 10 anos sem investimentos em novas vias, consumiríamos 50% dos recursos destinados ao estado.

Para o Brasil, no ano que vem, considerando os investimentos previstos para a Copa, o orçamento do MC é de 18 bilhões de reais para a mobilidade urbana. É também o valor que a cidade de São Paulo gastará com a nova frota de veículos particulares em 2010, a ser incrementada em 500 mil veículos.

Sem uma política e estratégias objetivas, claras e aplicáveis para a mobilidade urbana, restrições rigorosas, subsídios ao transporte de massa e educação, muita educação, nossas cidades seguirão mergulhando num completo caos, a custo de milhares de vidas humanas (média de 22 mortes/100 mil habitantes/ano), bilhões de reais em desconomias geradas pela imobilidade a economia e, toda a sorte de traumas e despesas na saúde pública resultantes desta verdadeira chaga. O trânsito no mundo mata quatro vezes mais do que todas as guerrass e conflitos, segundo a ONU.

Depois da fome, que mata 25 mil pessoas por dia, o caos no trânsito das cidades é "peste negra" deste início de século.

ON THE ROCKS

Volta e meia, as nossas calçadas de pedras portuguesas ficam sob fogo cruzado. 0 argumento é sempre o mesmo: o perigo que a falta de manutenção representa para os transeuntes. Mas, se o problema é a manutenção, por que tirar as pedras? 0 que leva alguém a supor que uma cidade incapaz de manter um calçamento de pedras portuguesas será capaz de manter um calçamento de qualquer outra coisa?

Já vimos este filme durante o Rio-Cidade, quando almas iluminadas tiraram as pedrinhas da Avenida Copacabana, substituindo-as por materiais supostamente mais resistentes. Hoje, passados 15 anos, sofremos com as consequências: não há nada mais feio, pobre ou antigo do que aquele cimento. Será que é isso que queremos para a cidade toda?!

Não sei se vocês se lembram, mas, na época, enquanto desqualificava as pedrinhas na Zona Sul, a prefeitura construía, na Ilha do Governador, mais de 15 quilômetros de calçadas... em pedra portuguesa! Coerência, para que vos quero? O pior é que estou convencida de que as pedras removidas em Copacabana foram revendidas, a peso de ouro, para a obra da Ilha; mas isso são outros 500. Ou 500 mil. O fato é que, ao contrário do que gostam de pregar seus detratores, os mosaicos são uma excelente forma de calçamento, que vêm provando seu valor há milhares de anos. Variações das nossas calçadas usadas na Mesopotâmia, no Egito e na antiguidade greco-romana sobreviveram a toda espécie de desastre e podem ser vistas até hoje. É verdade que, no máximo, enfrentaram terremotos e erupções de vulcões, e não administrações do Cesar Maia; mas, ainda assim...

Duvido que outras formas de calçamento se conservem tão bem através dos séculos. Para ter idéia de como se comportam atualmente, basta ver as ruas lindas e impecáveis de Lisboa, onde é quase impossível, se não impossível de todo, ver pedra fora do lugar.

O diretor-adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, Cristóvão Duarte, também pensa assim. Em artigo publicado no site do GLOBO no último dia 28, ele aponta, entre as vantagens dos mosaicos de pedras portuguesas, a sua imbatível flexibilidade, que permite acompanhar os menores declives do terreno e todas as formas geométricas encontradas pelo caminho; a economia do sistema, que reaproveita sempre o mesmo material, e dispensa o uso de cimento (basta que as pedras sejam assentadas bem próximas umas às outras, e não de qualquer maneira, como se faz aqui); a praticidade do assentamento, que pode ser aberto para obras subterrâneas e fechado em seguida com um mínimo de barulho e transtorno; e a sua capacidade drenante.

Esse é um ponto particularmente interessante. As pedras são (ou deveriam ser) assentadas sobre uma camada de areia que, por sua vez, recobre um solo compactado e devidamente preparado para drenar as águas superficiais. Ou seja: choveu, a calçada se enxuga rápido e sozinha. Para isso, porém, as pedrinhas devem ser instaladas como manda a boa técnica, sem uso de cimento ou aderentes. A única "desvantagem" das pedras portuguesas em relação aos outros tipos de calçamento é o custo. Elas são muito mais baratas e, por conseguinte, muito menos lucrativas para quem faz as obras. Nós sabemos o que significa o custo Brasil, mas, sinceramente, já estava na hora de isso mudar! Muito melhor e mais barato do que desfazer todas as calçadas e enfear o Rio era criar um curso permanente de calceteiros, que formasse mão de obra especializada no assentamento de pedrinhas. Fazendo a coisa certa, em breve poderíamos até exportar know-how, já que, por acaso, temos as calçadas mais famosas do mundo. No mais, é como diz o professor Cristóvão:

"Uma cidade precisa ser construída e reconstruída todos os dias, pedrinha por pedrinha, tal como os mestres calceteiros nos ensinaram ao longo da História das cidades. A força de cada pedrinha decorre da força do sistema como um todo, gerado pelo fato de todas as pedrinhas compartilharem, solidárias, o mesmo projeto de cidade."

Cora Rónai - O Globo de 14 de maio de 2009