sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

FAÇO O QUE EU DIGO, MAS...


A campanha IPTU premiado colocada em prática pela Prefeitura de Joinville remete a algumas questões intrigantes.
Primeiro: este prêmio funciona como um subsídio cruzado. Você paga a IPTU adiantado ou na data do vencimento e, ganha carros, motos e eletrodomésticos. Os prêmios serão adquiridos com o seu dinheiro, justamente você que pagou adiantado ou na data do vencimento e, os inadimplentes obviamente não concorrem a nada mas também não vão pagar o prêmio, somente as multas. Impostos são obrigações legais dos cidadãos e, o maior prêmio que podemos receber com o pagamento de tributos é a sua boa aplicação, com probidade e transparência.
Então pergunto: Alguém já recebeu alguma informação fiel e detalhada sobre como foi aplicado o IPPTU que pagou? A verdade é que recebemos muito pouco pelo o que pagamos, mas sabemos que a folha de pagamento consome mais da metade das receitas e, o IPTU arrecadado em Joinville sequer é suficiente para pagar este exército de servidores e comissionados.
Sabemos também que são os impostos que pagam os ótimos salários dos vereadores, que na verdade deveriam trabalhar de graça pela sociedade a quem dizem representar e, não contentes, gastam ainda os impostos com viagens e aluguel de carros. Na prefeitura são quase mil cargos comissionadas superando a Prefeitura de Curitiba e, ainda muito mais é feito com o imposto que nós pagamos e não concordamos de como são aplicados.
Então, não há mesmo muita motivação para pagar impostos neste país e nesta cidade.
Segundo: fica também uma questão é sobre o belo discurso oficial do IPPUJ que prega o uso de transporte coletivo, da bicicleta, etc., numa linha de raciocínio que eu concordo para restringir o uso do carro nos deslocamentos urbanos. Porém, sem transporte de qualidade e uma rede cicloviária segura, isto jamais acontecerá.
Dar carros e motos como prêmio pelo IPTU pago é justamente praticar o discurso às avessas, contribuindo mais um pouquinho com o caos no trânsito e com novos clientes na ala de politraumatismos no Hospital São José.
É a linha do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Ora, se já não é muito convincente usar dinheiro público para premiar aquilo que é uma obrigação legal do cidadão, fica ainda menos legal, conspirar contra a mobilidade urbana dando carros e motos.
Mas neste país de mentes tão iluminadas, onde alguns valores são desprezados, convencendo-me de que meu discurso ficará no vazio, faço então a seguinte sugestão: querem dar prêmio para os adimplentes?
Então deem lotes urbanizados, casas populares, bicicletas, bônus para alimentação, bônus de uso do transporte público ou quem sabe um plano de saúde privado quitado por 5 anos. Aí sim estaremos usando dinheiro público de forma ética e proba ou, pelo menos contribuindo para a melhoria da mobilidade e da saúde pública.