sábado, 2 de outubro de 2010

SEM ESTRELAS


Desde 1980 venho adquirindo o Guia 4 Rodas, o mais completo e respeitado guia para viagens do Brasil. Na edição de 2011 me chamou a atenção alguns novos atributos ou critérios que os editores levaram em consideração, dos quais destaco a indicação dos hotéis sustentáveis, que seguem as regras do Leadership in Energy and Environmental Design – LEED. Portanto, o turismo e a sustentabilidade hoje estão muito mais associados e, políticas, ações e empreendimentos sustentáveis tem maior reconhecimento e chance de sucesso.

Chamou-me atenção a redução de atrações e destaques do Estado de Santa Catarina. Sequer o tradicional roteiro do nosso litoral veio a ser mencionado entre os 10 sugeridos pelo guia. Foram também inexpressivas as novidades em relação a hotelaria e, perdemos destaques na gastronomia de qualidade. A justificativa foi de que o Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste investiram e agregaram mais valor ao turismo e, por isto, se destacaram. Outra constatação foi de que não houve citação nem destaque a qualquer hotel ou restaurante catarinense. Dentre as 40 cidades mais importantes a serem visitadas, o guia apontou apenas com Florianópolis, Bombinhas e Balneário Camboriú. Também não houve qualquer indicação para as melhores atrações e, por fim, na citação de 290 cidades que são importantes para viajantes como ponto de parada, descanso, eventos profissionais, feiras ou congressos, apareceram 15 cidades de Santa Catarina, sem que conste Joinville, Blumenau, Criciúma, Itajaí, Lages nem Chapecó.

Joinville, a cidade da “Via Gastronômica” não tem um restaurante sequer destacado pela qualidade da gastronomia (indicação da famosa estrela do Guia 4 Rodas). Quanto ao grau de interesse das atrações, Joinville tem 5 citações tidas apenas como “interessantes” (2 museus, o passeio do Barco Príncipe na Baía da Babitonga e, os roteiros da área rural com destaque a estrada Dona Francisca). Salva-nos o Festival de Dança que, ainda assim, é um evento que traz um bom numero de bailarinos com orçamento apertado e poucos turistas.

Ao longo dos 30 anos que utilizo este guia, Joinville vem perdendo atrações e destaque. O resumo da minha leitura é que não temos qualquer política importante voltada ao turismo de bom nível. O Governo do Estado foi ridiculamente ineficaz ao longo dos últimos anos e, a cidade segue pífia e inexpressiva para turismo de eventos.

O turismo representa um setor econômico com altas taxas de crescimento real e potencial. Alguns países emergentes tem a elevadas receitas geradas pelo turismo, mas o Brasil ainda patina neste segmento e, como podemos ver, Santa Catarina anda a passos de tartaruga se comparada a outros estados do país. No Rio Grande do Norte, por exemplo, empresas brasileiras e estrangeiras investem maciçamente na construção de complexos hoteleiros ao longo da sua costa, que é menor do que a de Santa Catarina. Lá, o Estado investiu em infra-estrutura e aeroportos, permitindo ligações diretas entre Natal e as capitais européias. Aqui, estamos perdendo vôos regulares por falta de investimentos e ações concretas.

O turismo praticado sem planejamento social e ecológico, com uma visão imediatista, especulativa ou com motivações unicamente políticas pode causar impactos negativos na sociedade, no meio ambiente e na própria economia. Em Santa Catarina não existe planejamento estratégico para o turismo. A visão ainda está voltada exclusivamente ao turismo de massa, o “veranismo” e as festas de outubro. O primeiro é responsável pela ocupação indiscriminada, destrutiva e especulativa do litoral, comprometendo o meio-ambiente e as paisagens, a própria razão da atração do turista. O segundo está com data de vencimento e necessita de um novo modelo, para não sucumbir a feroz concorrência de outros eventos no Brasil.

O turismo de qualidade e de longo prazo investe em infra-estrutura, pensa de forma sustentável, propões estratégias de desenvolvimento durável que inclui pensar a saúde, o esporte, as ciências, educação e cultura, com a imprescindível aceitação e participação da sociedade.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O PATERNALISMO CRIATIVO

Domenico De Masi trata, em seu livro O Ócio Criativo, sobre o que você pode esperar do futuro, na vida, na carreira e no mundo para os próximos 20 anos. Ele definiu 10 tendências relativizadas nos 10 mandamentos. Fiz uma apropriação das tendências por ele propostas, olhando para o Brasil nos p´roximos anos, ajustando-as a nossa realidade, a qual me atrevo a fazer as seguintes previsões:

1. Longevidade: Vivemos num país de terceiro mundo que não sai do estado “em desenvolvimento”, uma transitoriedade irritante que me acompanha desde o nascimento. Em 500 anos, nossa cobertura de saneamento básico é de 50%, (considerado como “satisfatório”) e, 78% da população tem acesso a água tratada (dados do Ministério das Cidades). Sinceramente, será difícil aumentar a expectativa de vida para além dos 70 anos. Aids, câncer não os maiores causadores de mortes no Brasil, mas sim o trânsito. Não dispomos de estradas descentes, educação no trânsito nem hospitais equipados. Com a corrupção endêmica na política, o sistema de saúde pública não dará a possibilidades de atingir a meta dos 100 anos de vida preconizada pelo Domenico De Masi.

2. Tecnologia: Somos um país sem cientistas. Os poucos heróis (devem ser também loucos) que teimam em permanecer no país não dispõe de apoio. Nosso desenvolvimento em tecnologias de informática é totalmente incipiente. Assim, seremos dependentes por anos a comprar tecnologia ultrapassada de paises desenvolvidos e, nos restará pouca chance de sermos competitivos ou beneficiários diretos das novas tecnologias. Segundo De Masi, um chip terá o mesmo tamanho que um neurônio e custará 1 centavo. Aqui, 1 centavo será o valor do cérebro. Nossa realidade é que nos faz criativos e muito distantes da intelectualidade repetitiva, pois continuaremos a depender exclusivamente das pessoas e do governo.

3. Trabalho e formação: Trabalho, estudo e tempo livre. A educação o Brasil não é intensa nem permanente e não ocupa boa parte da vida dos brasileiros. 10% dos brasileiros são analfabetos e, por conta do bolsa família, estamos criando uma nova geração de “analfabetos obesos” (frase do Cajuru). 43% de toda a economia é gerada pela informalidade, fazendo com que a concentração de renda e as desigualdades sociais permaneçam intactas por muito tempo. Levaremos uma geração inteira para alterar esta perspectiva, pois é improvável que tenhamos aqui um pacto social para redistribuir a riqueza, o trabalho, o conhecimento e o poder. Nossa criatividade, que é fruto das dificuldades, da burocracia e da corrupção no governo, nos afastará do desenvolvimento pois ela será usada para "matar o tempo". Seguindo o modelo populista do semi-deus Lula, veremos a proliferação do paternalismo público, onde ninguém mais vai querer fazer trabalho braçal, estudar ou trabalhar. Donas de casa e estudantes serão remunerados, assim como os desempregados. Veremos multiplicar as bolsas famílias, bolsas gás, bolsas chopp, seguro desemprego, etc., até que o petróleo do pré-sal acabe.

4. Onipresença: O Estado conseguirá domar a imprensa e, com o futuro Cartão Unificado ligado ao sistema integrado da Receita Federal e Polícia Federal, estaremos sendo monitorados em qualquer lugar, por celular ou Internet. A cada movimento, nos será cobrado impostos para abastecer a imensa máquina pública. A cirurgia plástica virá para resolverá isso – modificaremos o corpo e a fisionomia para fugir do fisco, como fez o Dirceu para não ser reconhecido pela polícia.

5. Tempo livre: Com o exemplo de um sujeito que nunca trabalhou na vida e virou presidente e, com o apoio das bolsas paternalistas que o governo deste presidente criou para o povo, aumentarão as horas de ócio como uma epidemia que terá origem no Nordeste do país. Cresceremos intelectualmente? Resposta: Não! Tenderemos à criatividade ou à dispersão? – Resposta: Não! Prevalecerá a violência ou a harmonia? Resposta: As duas, pois teremos mais gente anestesiada com o paternalismo, assim como serão mais e maiores os consumidores de drogas na mais vigorosas das indústrias - o tráfico, onde bandidos e policiais serão irreconhecíveis. Todos estarão numa boa, desde que paguem os impostos ou aos bandidos, e vice-versa.

6. Androginia: O Brasil será ainda mais andrógino. Serão mulheres vestidas de homens, homens vestidos de mulheres, políticos vestidos de ladrões e ladrões vestidos de políticos. Os santos serão banidos. Portanto, estaremos muito à frente do Novo Mundo imaginado pelo De Masi.

7. Estética: Como a perfeição técnica do photoshop como requisito indispensável a maquiar as imagens dos nossos políticos, o que irá fazer a diferença nas eleições será aquele que aperfeiçoar ainda mais suas qualidades formais. Ou seja, forma será mais importante do que conteúdo. Daí as atividades estéticas vão ser valorizadíssimas – assim como já ocorre hoje com a política no Brasil.

8. Ética: Numa sociedade onde a corrupção é tratada como piada e vantagem, onde não prestar serviços básicos tornou-se rotina, onde tratar o cliente como palhaço é a maior das vantagens competitivas, a ética será o mais alto crime. Apenas os homens sem caráter vencerão. Podemos até dizer que já entramos nesta nova era com muita força.

9. Subjetividade: Segundo De Masi, o que diferenciará profissionalmente uma pessoa da outra serão seus gostos e seu comportamento. As pessoas vão fazer só as coisas pelas quais se apaixonem e só trabalharão em áreas que as motivem. Como já nos falta a motivação, não precisamos ficar inutilmente competindo.

10. Qualidade de vida: As pessoas não aceitarão trabalhos mais do que três meses, caso não estejam no serviço público, onde trabalhar será facultativo. Com a bolsa família, seguro desemprego, 12 meses de licença maternidade para pai e mãe, outras vantagens ainda virão fazendo com que todos os que sobreviverem irão viver bem. Para nós, a preocupação será como viver e não o quanto viver.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FICHA SUJA - CONFIRA OS SITES SOBRE O ASSUNTO







A INDIGNAÇÃO É SAGRADA

Para você cidadão: que foi constrangido ao ser assaltado e não teve a proteção do estado; que passou pela agonia das filas nos hospitais deixando-o com um sentimento de revolta; que ao final do mês de trabalho deixa um terço do seu salário nos cofres públicos sem receber a contrapartida; que trafega nas estradas sem conservação ou que, para trafegar com qualidade, é obrigado a pagar pedágio, mesmo que lhe cobrem o IPVA; que vê a corrupção endêmica neste país onde ladrões ficam impunes por uma justiça relapsa e protelatória de decisões que nos resgatariam a dignidade; que é empreendedor, mas é tratado como sonegador, mesmo que a metade do seu produto vire impostos; que necessita de transporte público digno, mas é tratado pior do que um animal; que é barrado em blitz “caça níquel”, embora o maior perdulário é quem autua; que assiste a máquina pública sendo utilizada para favorecer parentes e amigos; que vê nossas riquezas esgotadas sem qualquer controle do estado; que mora em locais sem saneamento básico ou é vítima da especulação; que fica nas filas, é mal tratado pelos agentes públicos, mesmo se for para pagar seus impostos; que não é respeitado como cidadão.

Pense bem, reflita, escolha com critério um candidato que inspire confiança e que, pela história de vida, possa mudar a sua vida para melhor. Não acredite naqueles que estão há anos no poder mentindo sobre a nossa triste e maquiada realidade. Se não achar um candidato a altura dos seus sonhos, vote nulo. O voto é sagrado e pode ser a expressão da sua indignação.
Numa democracia, o direito à indignação é sagrado.

Sérgio Gollnick

terça-feira, 28 de setembro de 2010

SEMINÁRIO OU OFICINA PARA SOLUÇÕES URBANAS

Em 2007 participei em Curitiba de um Seminário Internacional que tinha como tema a Requalificação da Paisagem Urbana da Área Central de Curitiba. O objetivo proposto e coordenado pela faculade de arquitetura da UNICENP foi o de ampliar as discussões acerca do tema e desenvolver propostas criativas para o centro da cidade, incentivando maior participação dos arquitetos e urbanistas no planejamento de Curitiba.

O Seminário teve um caráter acadêmico, mas pela presença e pelos especialista que ali estiveram, constituiu-se como um evento muito especial, podendo servir para outras cidades de modelo. As atividades do Seminário estruturou-se em:

- ateliês de projeto urbano;
- conferências nacionais e internacionais;
- comunicações.

A participação foi eclética e contou com acadêmicos e profissionais de arquitetura e urbanismo e dirigidos por professores de escolas internacionais convidadas. Nesta edição os diretores de ateliê convidados foram:

  • Espanha - Escola Tècnica Superior dArquitectura de Barcelona, ETSAB - UNIVERSIDADE POLITÈCNICA DA CATALUÑA
  • França -  Ecole Nationale Supérieure dArchitecture et de Paysage, ENSAP - UNIVERSITÈ DE BORDEAUX
  • EUA - School of Planning - College of DAAP - UNIVERSITY OF CINCINNATI
  • Uruguai - Facultad de Arquitectura FARQ - UNIVERSIDAD DE LA REPÚBLICA URUGUAY
A experiência legou inúmeras propostas para o centro de Curitiba maso destaque foi a participação de profissionais que apresentaram "cases" de intervenções urbanas bem sucedidas.

Fica a idéia para que seja protagonizada em outras cidades, especialmente em Joinville, onde as propostas que tem sido formuladas são sempre de um mesmo grupo que teima em não se relacionar com o público.

REQUALIFICAÇÃO URBANA

Por António Cipriano da Silva (*)

(...) O crescimento das cidades não foi devidamente acompanhado por mecanismos de planejamento urbano. Os resultados foram subúrbios desordenados, feios, sem espaços verdes ou acessibilidades, com poucos ou nenhuns serviços sociais. Ao invés, os centros das grandes urbes foram-se sistematicamente desertificando, sendo hoje por norma apenas habitados por populações idosas de baixos recursos. Gradualmente um sem número de edifícios, muitos com valor histórico e arquitetônico, foram-se deteriorando, contribuindo para centros urbanos envelhecidos, abandonados e degradados.

Compete aos poderes públicos contribuírem para a modificação deste cenário. O paradigma deixou de ser a construção e aprovação de novos empreendimentos urbanísticos, para passar à requalificação urbana. Num primeiro plano, os poderes públicos devem constituir equipamentos pluridisciplinares que “pensem a cidade” enquanto espaço de história, sentimentos e vivência humana, delineando uma estratégia de requalificação urbana assentada em três eixos: requalificação dos espaços públicos (praças, monumentos), requalificação dos edifícios municipais; requalificação dos edifícios privados por via da concretização de incentivos financeiros e fiscais.

Obviamente que tal estratégia implica elevados recursos financeiros, devendo a sociedade civil sensibilizar as autoridades para a necessidade da promoção de políticas centrais de requalificação urbana. Os municípios, enquanto agentes políticos que melhor compreendem os sentimentos e necessidades das nossas cidades devem se sensibilizar, negociar, cmpreender para esta nova prioridade. Afinal, a valorização e requalificação das nossas cidades é economicamente um instrumento indutor de mais valia melhorando a oferta turística, sendo indiretamente fonte de impostos para os poderes locais e centrais. O processo de requalificação urbana com sucesso, só será possível graças a um envolvimento de toda a sociedade civil.

(...) Há a necessidade, do meu ponto de vista, de criar novos espaços verdes na cidade, de reforçar os equipamentos de saneamento, modernizar o mobiliário urbano, desenvolver novos planos de melhorias, bem como requalificar os bairros históricos. A competitividade das cidades, quer ao nível da atração de novos habitantes, quer ao nível da captação de turistas, implica numa estratégia sistemática de valorização de todo o quadro urbanístico da cidade, de modo a potencializar uma proposta de valor, ancorada na qualidade de vida e no desenvolvimento sustentado.

(*)António Cipriano da Silva nasceu em 1978 em Caldas da Rainha - Portugal. É Licenciado em Gestão pela Universidade de Lisboa, Técnico Oficial de Contas, Consultor de Projetos de Investimentos, membro da Ordem dos Economistas, no Colégio de Especialidade de Gestão Empresarial.