Desde 1980 venho adquirindo o Guia 4 Rodas, o mais completo e respeitado guia para viagens do Brasil. Na edição de 2011 me chamou a atenção alguns novos atributos ou critérios que os editores levaram em consideração, dos quais destaco a indicação dos hotéis sustentáveis, que seguem as regras do Leadership in Energy and Environmental Design – LEED. Portanto, o turismo e a sustentabilidade hoje estão muito mais associados e, políticas, ações e empreendimentos sustentáveis tem maior reconhecimento e chance de sucesso.
Chamou-me atenção a redução de atrações e destaques do Estado de Santa Catarina. Sequer o tradicional roteiro do nosso litoral veio a ser mencionado entre os 10 sugeridos pelo guia. Foram também inexpressivas as novidades em relação a hotelaria e, perdemos destaques na gastronomia de qualidade. A justificativa foi de que o Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste investiram e agregaram mais valor ao turismo e, por isto, se destacaram. Outra constatação foi de que não houve citação nem destaque a qualquer hotel ou restaurante catarinense. Dentre as 40 cidades mais importantes a serem visitadas, o guia apontou apenas com Florianópolis, Bombinhas e Balneário Camboriú. Também não houve qualquer indicação para as melhores atrações e, por fim, na citação de 290 cidades que são importantes para viajantes como ponto de parada, descanso, eventos profissionais, feiras ou congressos, apareceram 15 cidades de Santa Catarina, sem que conste Joinville, Blumenau, Criciúma, Itajaí, Lages nem Chapecó.
Joinville, a cidade da “Via Gastronômica” não tem um restaurante sequer destacado pela qualidade da gastronomia (indicação da famosa estrela do Guia 4 Rodas). Quanto ao grau de interesse das atrações, Joinville tem 5 citações tidas apenas como “interessantes” (2 museus, o passeio do Barco Príncipe na Baía da Babitonga e, os roteiros da área rural com destaque a estrada Dona Francisca). Salva-nos o Festival de Dança que, ainda assim, é um evento que traz um bom numero de bailarinos com orçamento apertado e poucos turistas.
Ao longo dos 30 anos que utilizo este guia, Joinville vem perdendo atrações e destaque. O resumo da minha leitura é que não temos qualquer política importante voltada ao turismo de bom nível. O Governo do Estado foi ridiculamente ineficaz ao longo dos últimos anos e, a cidade segue pífia e inexpressiva para turismo de eventos.
O turismo representa um setor econômico com altas taxas de crescimento real e potencial. Alguns países emergentes tem a elevadas receitas geradas pelo turismo, mas o Brasil ainda patina neste segmento e, como podemos ver, Santa Catarina anda a passos de tartaruga se comparada a outros estados do país. No Rio Grande do Norte, por exemplo, empresas brasileiras e estrangeiras investem maciçamente na construção de complexos hoteleiros ao longo da sua costa, que é menor do que a de Santa Catarina. Lá, o Estado investiu em infra-estrutura e aeroportos, permitindo ligações diretas entre Natal e as capitais européias. Aqui, estamos perdendo vôos regulares por falta de investimentos e ações concretas.
O turismo praticado sem planejamento social e ecológico, com uma visão imediatista, especulativa ou com motivações unicamente políticas pode causar impactos negativos na sociedade, no meio ambiente e na própria economia. Em Santa Catarina não existe planejamento estratégico para o turismo. A visão ainda está voltada exclusivamente ao turismo de massa, o “veranismo” e as festas de outubro. O primeiro é responsável pela ocupação indiscriminada, destrutiva e especulativa do litoral, comprometendo o meio-ambiente e as paisagens, a própria razão da atração do turista. O segundo está com data de vencimento e necessita de um novo modelo, para não sucumbir a feroz concorrência de outros eventos no Brasil.
O turismo de qualidade e de longo prazo investe em infra-estrutura, pensa de forma sustentável, propões estratégias de desenvolvimento durável que inclui pensar a saúde, o esporte, as ciências, educação e cultura, com a imprescindível aceitação e participação da sociedade.
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