sábado, 17 de julho de 2010

O BRASIL E SUAS CONTRADIÇÕES

“Brasil ficou entre 8 melhores do mundo no futebol e ficou triste.

Mas é o 85 pior país do mundo em educação e não há tristeza.”


Cristovam Buarque - Senador da República

JOINVILLE - UMA DINÂMICA TOSCA DE OCUPAÇÃO URBANA


A cidade de Joinville do século XXI apresenta um novo dinamismo urbano e social, com significado demográfico, que exige novas respostas para configurar o espaço urbano e a própria centralidade. Passamos por um período em que a cidade apresentou uma grande dinâmica de movimento ocupacional por conta de muitas razões, dentre as quais as leis urbanísticas que restringiram a ampliação de unidades industriais nas áreas mais centrais. Esta mudança deu-se a partir da década de 70 e 80 com a ocupação do Distrito Industrial, motivadas pelo Plano Diretor de 1973.

Com as novas regras conjugada ao crescimento econômico do “milagre econômico brasileiro” (1968/1974), Cônsul, Tupy, Tigre, Schulz, Duque, Nielson, Docol, Doehler e tantas outras empresas deslocaram-se para os distritos industriais, Norte e do Boa Vista, gerando espaços urbanos vazios que começaram a ser lentamente ocupados na década de 90. Ao longo das últimas décadas do século passado outras indústrias sucumbiram, quebraram ou fecharam (Martric, Stein, Raiman, Fiação Joinvillense, Aracy, Centauro, Rainha, Nylonsul, Lumiére, Aloma, Ambalit, Bozler, Mold Motores, Usina Metalúrgica de Joinville, Antártica, etc.) deixando outros tantos espaços urbanos desocupados ou ociosos.

A outra vertente da dinâmica ocupacional urbana de Joinville está intimamente ligada com a ampliação do setor secundário na década de 70, atraindo grande contingente de trabalhadores que foram se instalando nas bordas da cidade. Neste período Joinville tinha um crescimento demográfico de 12,4% ao ano, chegando a ser a segunda maior cidade brasileira em crescimento populacional. A utilização de mão de obra intensiva, desqualificada e rotativa nos setores da metalurgia e mecânica formou os núcleos de urbanização em áreas marginais, como os mangues, numa primeira fase e nas terras da zona Sul da cidade, baratas e carentes de infra-estrutura.

Estando o território urbano apto a urbanização sob o domínio das famílias tradicionais, sobraram os territórios inaptos a ocupação, cujos despachantes eram agentes políticos que incentivaram ocupações irregulares em territórios de domínio da União ou loteadores que adquiriam grandes glebas de terra baratas desprovidas de qualquer infra-estrutura, transformando-as em loteamentos populares de baixa qualidade, desprovidos de serviços básicos, geralmente complementados com recursos públicos.

O Plano Diretor também previu a proteção dos morros nos limites da cota 40, um dispositivo legal que protegeu a ocupação de extensas áreas verdes de encostas.

Outra dinâmica de alteração no território se deu pelo rápido crescimento industrial que pressionou a mudança da atividade de parte da população rural em sua base econômica, trocando a lavoura pelos empregos nas indústrias. A proximidade do Distrito Industrial com a região de Pirabeiraba e Rio Bonito pressionaram os filhos dos agricultores a deixarem as tradições agrícolas para seguirem novas vocações laborais. A mudança desestruturou as famílias e a produção agrícola, fazendo do território rural uma opção para a expansão do território urbano, pela venda de propriedades agrícolas para fins habitacionais. Este processo acelerou-se na década de 80 com a falência das pequenas economias agrícolas no auge da crise econômica, com o parcelamento informal de propriedades rurais para geração de renda.
 
A sequencia do processo de urbanização passou pelo despovoamento do centro e de alguns tecidos internos resistentes à especulação, ao passo que a periferia seguia densificando, pressionando o perímetro urbano para áreas impróprias. Geramos assim um enorme estoque de terra no núcleo urbano pouco denso e em poder de poucos proprietários. O extenso espaço urbano ocupa hoje aproximadamente 220km2 caracterizando-se pela baixa densidade – pouco mais de 440 hab./km2, demonstrando uma utilização rarefeita e um fraco e desconexo processo de urbanização resultante de contínuas extensões territoriais e fracos planos de ocupação do território.

Nosso processo de urbanização necessita ser reconquistado, conciliado às novas tendências, equacionado e planejado através de conceitos ou modelos de unidades administrativas e funcionais que dialoguem entre si. O jogo urbano necessita ser compreendido por todos e potencializado por um conjunto de novas e mais inteligentes formas de ocupação. Precisamos reorganizar as principais funções, fomentando coexistências nunca praticadas na Cidade.

Os conceitos habitar, trabalhar, circular, animar/descansar, higienizar, fortalecer o saneamento ambiental exigem, antes do reordenamento dos espaços e das formas de utilizá-lo, um novo pensamento urbano voltado a objetivos e práticas sustentáveis.

Neste sentido, a postura oficial é confusa, frágil e extremamente contraditória na medida em que busca massificar determinadas áreas, sob o título de densificação, ao mesmo tempo em que propõe expandir o território urbanizável sobre áreas frágeis ou rurais, reforçando o processo de expansão territorial para atendimento a projetos duvidosos, senão perigosos.

Precisamos nos libertar destas amarras, que não se sustentam por não se justificarem. Necessitamos utilizar as inteligências para criar formas não convencionais, novas manifestações estéticas e funcionais que exaltem a nossa singularidade urbana e a particular natureza geográfica que Joinville ocupa. Nossa paisagem urbana é um todo no conjunto, mas é também um mosaico diversificado, cada vez menos coeso, mais desestruturado e frágil em suas unidades formais e funcionais que se diferenciam pela escala, pelo uso e pela pressão da apropriação privada, menos pelo planejamento-ordenamento pouco reconhecido e autentico.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

JOINVILLE - AV BEIRA RIO COSMOPOLITA

Seguem algumas imagens do trabalho de gradução do Gabriel Gollnick. A área de estudo foi o eixo Beira-Rio, entre o Moinho e o Terminal Norte. A proposta de intervenção urbana envolve parcerias público privadas e investimentos e qualificação do transporte e do entorno. Uma proposta para ser discutida, mas é uma nova visão para aquele espaço urbano tão nobre.
Vista Aérea
Aérea

Quadro do Centreventos
Final da João Colin
Quadra do Centreventos
Áreas Comerciais
Passarelas sobre o Cachoeira
Transporte - VLT Veículo Leve sobre Trilhos
Prefeitura

EM BUSCA DA "CIDADE INTELIGENTE"

Ao participar dos atuais “debates” sobre o futuro da cidade, Plano Diretor, leis Complementares, Lei de mudança de usos, Fóruns e todo tipo de intenção que visa, de alguma forma, modificar as estruturas que compõe a cidade, começo a pensar em outras fórmulas de construir o futuro de Joinville.

Em todas as possibilidades imagino que a sociedade deve estar presente, não apenas de forma eventual. Cada vez mais me convenço que só podemos construir uma cidade com qualidade, se todos tiverem a oportunidade de participar. Não significa que devemos retirar do cidadão suas horas de folga e descanso. Não!  É necessário motivar a sociedade a vir participar de bons e bem estruturados debates, discussões sadias com linguagens coloquiais que amplifiquem os objetivos e melhorem a comunicação objetivando a construção uma agenda de compromissos positiva a fim de melhorar as formas de viver na cidade.

Esta minha reflexão vem se consolidando amparada em muita observação, leitura, debates técnicos, relação com segmentos sociais ou instituições das mais diversas origens e formatos. Começo a ter uma nova forma de ver o futuro da minha cidade. Talvez seja uma visão pessoal que se fixa num processo concentrado no uso da inteligência. Todos somos inteligentes, alguns com maior profundidade, outros com maior superficialidade, mas somadas estas inteligências podem desencadear um extrato de boas resoluções.

Inspirado num texto de Nicholas Brooke, escrito na The Go-to Place For Management, em que analisa os fundamentos das cidades de sucesso, captei a idéia de que precisamos construir a “Cidade Inteligente”, mirando em muitas premissas, não apenas da riqueza ou sucesso econômico. Além do sucesso econômico, do equilíbrio fiscal, a cidade necessita praticar a sustentabilidade, não apenas dispondo de uma boa infra-estrutura, de boas condições de habitabilidade ou da aplicação correta de praticas ambientais ou do correto uso do dinheiro público. A “Cidade Inteligente” precisa dispor de fundamentos corretos.

Eis que, entre tantas situações que defrontamos no dia-a-dia, dos passivos e demandas, dos fragmentos que não se encaixam, é necessário reunir um conjunto de informações e bons estudos para construir estes fundamentos. Eles passarão a fazer parte da nossa agenda local de compromissos, flexíveis para permitirem à cidade exercer sua dinâmica em bases éticas, responsáveis e inteligentes. Dos diversos fundamentos, arrisco aqui eleger alguns que podem servir para elucidar esta nova abordagem, surgidos das leituras, das observações, de estudos, da prática profissional ou de alguns conceitos já consagrados. Eis então àqueles que escolhi:

DIVERSIDADE – A diversidade econômica, cultural e social é um ingrediente indispensável para fazer uma cidade vibrante. Cidades dependentes de um único setor econômico ou muito vinculadas às decisões de um apequena elite são vulneráveis. Diversificar a base econômica, abrir o universo de interlocutores deve ser uma prioridade para qualquer cidade. Além disso, as cidades que acolhem a diversidade em todas as suas formas, incluindo a diversidade cultural, política e étnica são mais atraentes. Parece-me então que quanto maior a diversidade, melhor equipada a cidade para gerar criatividade.

BOA GOVERNANÇA - Uma cidade precisa compreender como instalar e manter sua infra-estrutura e os serviços que devem sustentar seus diversos ambientes com qualidade. Isso necessita de competências e estruturas eficazes de governança local. Boa governança exige líderes fortes com visão e espírito cívico. Liderança significa estabelecer relações de vínculo com a sociedade de onde devem emergir as estratégias e as parcerias.

FORÇA DE TRABALHO QUALIFICADA – As cidades que almejam liderança precisam de trabalhadores qualificados e confiáveis. Isto significa que as cidades necessitam investir na educação e na formação, desenvolvendo estreitas relações entre as escolas, universidades e empresas. Elas também precisam criar ambientes para atrair trabalhadores qualificados, gerar talentos no mundo acadêmico e promover uma cultura de inovação, investigação e desenvolvimento.

QUALIDADE DE VIDA - Sociedades criativas precisam ter muitas opções. Não é apenas um bom emprego que resulta em qualidade de vida. Dispor de um patrimônio histórico, ambiental, paisagístico é algo que faz a diferença. Dispor de espaços ou instituições para desfrutar e desenvolver a cultura resulta em bem estar e alimenta a inteligência. Dispor de áreas verdes para contemplação, recreação e lazer é algo indispensável para ocupar o tempo ocioso.

CONECTIVIDADE – A comunicação com o mundo exterior é crucial. Sem um bom aeroporto e redes de transporte em diversas modais, a cidade não poderá dar seu salto para o status do qual imagina para a “Cidade Inteligente”. Da mesma forma, eficiência e qualidade na comunicação interna, sustentada por uma adequada rede de transportes públicos e de opções que privilegiem modos não motorizados de deslocamento, atendidos por uma infra-estrutura de qualidade, são essenciais para a circulação de pessoas, bens e serviços.

RENOVAÇÃO e REABILITAÇÃO - A recuperação, reabilitação ou renovação do patrimônio arquitetônico, paisagístico e da infra-estrutura é parte fundamental para qualquer estratégia urbana que almeje ser bem sucedida. Em muitos casos, este processo desenvolvido em áreas específicas, degradadas ou desvalorizadas, históricas ou de referência, funciona como um foco de atenção, bem como de geração de um “estado de espírito positivo” que coloca a cidade em movimento. Esta regeneração só funciona se combinada com a regeneração social, incluindo saúde e educação, necessários para suportá-los.

INOVAÇÃO - A introdução de novas técnicas e processos é a chave para a criação de empreendimentos baseados no conhecimento que geram altos padrões de vida. Nos últimos 30 anos, uma grande parte do crescimento da produção nos países desenvolvidos é resultado da inovação. A inovação depende de uma investigação forte e do estabelecimento de redes, envolvendo muitos segmentos e setores, público e privado, para gerar e compartilhar conhecimento.

PARCERIAS - Competir de forma eficaz necessita de um ambiente favorável entre organizações, sejam empresas, instituições não governamentais e setor público. Implica também em gerar novas regulações, reduzir a carga tributária, promover uma cultura de investigação, inovação e educação.

IDENTIDADE – Ser uma “Cidade Inteligente” é forjar uma identidade distinta. A globalização e outros fatores podem fazer com que as cidades sejam muito comuns entre si. É necessário preservar o seu caráter distintivo ou a "alma da cidade" e o desenvolvimento deve estar em sintonia com o espírito do lugar.

RELACIONAMENTO – As cidades com êxito quase sempre se tornam o coração de uma região bem sucedida. Compreender sua posição e a relação com seus vizinhos pode desenrolar num papel positivo ao nível regional e terá como conseqüência a distribuição de benefícios, gerando maior equilíbrio e competitividade.

Em resumo, para que o conceito de “Cidade Inteligente” tenha sucesso, para que a sustentabilidade venha a ser uma prática, ela não pode ser construída ou desenvolvida numa base demasiada estreita. O sucesso a longo prazo deve basear-se em transformações que ofereçam ambientes economicamente e culturalmente diversificados para uma elevada qualidade de vida. Conseguir o equilíbrio certo também exige líderes cívicos e éticos que tenham uma visão estratégica lastreada numa estreita parceria com todos os interessados na cidade.

domingo, 11 de julho de 2010

ESPANHA CAMPEÃ DO MUNDO - VENCEU O FUTEBOL

Espanha, campeã do mundo em 2010 honrou o futebol ao invés da violência e tentativa de intimidação praticada pela Holanda.

"La selección española no sólo escribe hoy la página más brillante de su historia sino que ha conseguido el objetivo de tener detrás a un país entero que se ve reflejado en su estilo, en su manera de jugar, en su carácter. No sólo es importante ganar, sino cómo se llega a la victoria, y nuestros jugadores han alcanzado lo más alto dibujando una imagen con la que nos hemos identificado todos y dando una lección de creatividad, de inteligencia, de fidelidad a su juego, de confianza en sus posibilidades, y de compromiso con el juego colectivo.
 
La clave de este equipo se explica perfectamente con una frase que Alfredo Di Stefano utilizó hace años para describir el fútbol: "Ningún jugador es tan bueno como todos juntos". Eso es España. Todos los jugadores son excelentes individualidades, pero saben aportar lo mejor de sí al proyecto común del equipo." (JOSÉ LUIS RODRÍGUEZ ZAPATERO 11/07/2010 - El País)