A cidade de Joinville do século XXI apresenta um novo dinamismo urbano e social, com significado demográfico, que exige novas respostas para configurar o espaço urbano e a própria centralidade. Passamos por um período em que a cidade apresentou uma grande dinâmica de movimento ocupacional por conta de muitas razões, dentre as quais as leis urbanísticas que restringiram a ampliação de unidades industriais nas áreas mais centrais. Esta mudança deu-se a partir da década de 70 e 80 com a ocupação do Distrito Industrial, motivadas pelo Plano Diretor de 1973.
Com as novas regras conjugada ao crescimento econômico do “milagre econômico brasileiro” (1968/1974), Cônsul, Tupy, Tigre, Schulz, Duque, Nielson, Docol, Doehler e tantas outras empresas deslocaram-se para os distritos industriais, Norte e do Boa Vista, gerando espaços urbanos vazios que começaram a ser lentamente ocupados na década de 90. Ao longo das últimas décadas do século passado outras indústrias sucumbiram, quebraram ou fecharam (Martric, Stein, Raiman, Fiação Joinvillense, Aracy, Centauro, Rainha, Nylonsul, Lumiére, Aloma, Ambalit, Bozler, Mold Motores, Usina Metalúrgica de Joinville, Antártica, etc.) deixando outros tantos espaços urbanos desocupados ou ociosos.
A outra vertente da dinâmica ocupacional urbana de Joinville está intimamente ligada com a ampliação do setor secundário na década de 70, atraindo grande contingente de trabalhadores que foram se instalando nas bordas da cidade. Neste período Joinville tinha um crescimento demográfico de 12,4% ao ano, chegando a ser a segunda maior cidade brasileira em crescimento populacional. A utilização de mão de obra intensiva, desqualificada e rotativa nos setores da metalurgia e mecânica formou os núcleos de urbanização em áreas marginais, como os mangues, numa primeira fase e nas terras da zona Sul da cidade, baratas e carentes de infra-estrutura.
Estando o território urbano apto a urbanização sob o domínio das famílias tradicionais, sobraram os territórios inaptos a ocupação, cujos despachantes eram agentes políticos que incentivaram ocupações irregulares em territórios de domínio da União ou loteadores que adquiriam grandes glebas de terra baratas desprovidas de qualquer infra-estrutura, transformando-as em loteamentos populares de baixa qualidade, desprovidos de serviços básicos, geralmente complementados com recursos públicos.
O Plano Diretor também previu a proteção dos morros nos limites da cota 40, um dispositivo legal que protegeu a ocupação de extensas áreas verdes de encostas.
Outra dinâmica de alteração no território se deu pelo rápido crescimento industrial que pressionou a mudança da atividade de parte da população rural em sua base econômica, trocando a lavoura pelos empregos nas indústrias. A proximidade do Distrito Industrial com a região de Pirabeiraba e Rio Bonito pressionaram os filhos dos agricultores a deixarem as tradições agrícolas para seguirem novas vocações laborais. A mudança desestruturou as famílias e a produção agrícola, fazendo do território rural uma opção para a expansão do território urbano, pela venda de propriedades agrícolas para fins habitacionais. Este processo acelerou-se na década de 80 com a falência das pequenas economias agrícolas no auge da crise econômica, com o parcelamento informal de propriedades rurais para geração de renda.
A sequencia do processo de urbanização passou pelo despovoamento do centro e de alguns tecidos internos resistentes à especulação, ao passo que a periferia seguia densificando, pressionando o perímetro urbano para áreas impróprias. Geramos assim um enorme estoque de terra no núcleo urbano pouco denso e em poder de poucos proprietários. O extenso espaço urbano ocupa hoje aproximadamente 220km2 caracterizando-se pela baixa densidade – pouco mais de 440 hab./km2, demonstrando uma utilização rarefeita e um fraco e desconexo processo de urbanização resultante de contínuas extensões territoriais e fracos planos de ocupação do território.
Nosso processo de urbanização necessita ser reconquistado, conciliado às novas tendências, equacionado e planejado através de conceitos ou modelos de unidades administrativas e funcionais que dialoguem entre si. O jogo urbano necessita ser compreendido por todos e potencializado por um conjunto de novas e mais inteligentes formas de ocupação. Precisamos reorganizar as principais funções, fomentando coexistências nunca praticadas na Cidade.
Os conceitos habitar, trabalhar, circular, animar/descansar, higienizar, fortalecer o saneamento ambiental exigem, antes do reordenamento dos espaços e das formas de utilizá-lo, um novo pensamento urbano voltado a objetivos e práticas sustentáveis.
Neste sentido, a postura oficial é confusa, frágil e extremamente contraditória na medida em que busca massificar determinadas áreas, sob o título de densificação, ao mesmo tempo em que propõe expandir o território urbanizável sobre áreas frágeis ou rurais, reforçando o processo de expansão territorial para atendimento a projetos duvidosos, senão perigosos.
Precisamos nos libertar destas amarras, que não se sustentam por não se justificarem. Necessitamos utilizar as inteligências para criar formas não convencionais, novas manifestações estéticas e funcionais que exaltem a nossa singularidade urbana e a particular natureza geográfica que Joinville ocupa. Nossa paisagem urbana é um todo no conjunto, mas é também um mosaico diversificado, cada vez menos coeso, mais desestruturado e frágil em suas unidades formais e funcionais que se diferenciam pela escala, pelo uso e pela pressão da apropriação privada, menos pelo planejamento-ordenamento pouco reconhecido e autentico.
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