segunda-feira, 23 de julho de 2012

SOBRE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL


Urbanistas e cientistas sociais afirmam que a mobilidade é um dos fenômenos mais importantes da sociedade contemporânea. Na medida em que a humanidade foi se urbanizando, ocupando territórios, a mobilidade passou a ser um elemento fundamental na dinâmica demográfica, no desenvolvimento econômico, congregando fenômenos imprescindíveis para compreender as transformações no mundo atual.  Acessar serviços ou bens ocupa hoje posição chave no processo de urbanização e, o modo como pessoas podem ou escolhem para se deslocar afeta diretamente a qualidade de vida urbana.

Os deslocamentos pendulares, espaciais de curta duração ou em grandes distâncias refletem impactos cada vez mais significativos na dinâmica socioespacial envolvendo muitos fatores e processos distintos que estão na base estrutural do sistema produtivo e no cotidiano dos cidadãos, englobando o sistema de transportes (de pessoas e mercadorias), a gestão pública do território, o desenho urbano, as interações espaciais e as dinâmicas demográficas específicas (estrutura familiar, migração, ciclo vital). 

Então, quais são os grandes desafios que devemos enfrentar na mobilidade urbana?

Joinville é uma cidade com um nível elevado de acumulação e concentração de atividades econômicas sobre complexas estruturas espaciais urbanas, muitas sem conexões, que deveriam estar suportadas por eficientes sistemas de transporte. Na medida em que a cidade cresce, maior é a complexidade e o custo das soluções assim como o potencial para que apareçam rupturas.

O primeiro passo para achar soluções é reconhecer nossas fragilidades, passando por um processo de pesquisa, estudo, planejamento e debate sobre o futuro que desejamos. Sem estas bases reconhecidas deixamos de praticar soluções para sistemas de transporte eficientes à livre circulação de pessoas e bens, essencial para a prosperidade econômica e melhoria da qualidade de vida. Passada a primeira década deste século, não dispomos de um plano de mobilidade urbana, instrumento fundamental para a construção daquilo que hoje chamam de “Cidade Inteligente”. Ficamos então à deriva, sem soluções eficazes, senão um rosário de promessas não cumpridas.

Hoje vivenciamos a apropriação integral do sistema viário pelo automóvel em detrimento de sistemas de transporte de massa, coletivos e eficientes. Os espaços de uso público, especialmente os passeios, são territórios órfãos sujeitos aos mal-tratos e as inadequadas condições de mobilidade e acessibilidade urbana, que também se constituem em barreiras efetivas para inclusão social. A cidade há muito não recebe investimentos estruturantes e navega num “dolce far ninte” a espera do milagre.

Nos raros debates observo a ausência de conhecimento, informação, transparência sobre o tema, motivo que protela soluções para cada 4 anos, dando a impressão que ninguém está disposto a assumir compromissos, que devem ser mútos (governo e sociedade). 

O tema é vasto, trata de economia, meio ambiente, saúde, educação, tecnologia, etc, mas existem alguns tópicos para abordar a mobilidade urbana aos quais não devemos fugir:

·        Uso do solo – a questão da mobilidade não pode ser fragmentada, somente sobre a circulação de veículos, deve ter como foco as pessoas, à organização territorial e à sustentabilidade. O conceito de mobilidade se apoia na integração do planejamento do uso do solo com o dos transportes;

·        A transferência modal e a intermodalidade – Seja para pessoas ou mercadorias, a possibilidade de realizar transferências modais pode ser uma saída para a mobilidade urbana. Por exemplo: o parqueamento (usuários dos automóveis para transporte coletivos em áreas periféricas ao centro); o modo cicloviário com o sistema de transporte coletivo; diversas modais integradas à modais de maior capacidade, etc. No transporte de mercadorias, o fracionamentos e transbordos que facilitem a logística de distribuição, reduzindo congestionamentos e o custo dos insumos.

·        O transporte urbano - o transporte público, não motorizado ou sustentável deve ter preferncia sobre o transporte motorizado individual. A postergação do plano de mobilidade retém novas formas de operação para os sistemas coletivos nos colocando em desvantagem. Os automóveis tomam as ruas e, o transporte coletivo perde importância. Necessitamos de corredores exclusivos, rede cicloviária, felxibilização nos transbordos, modernização dos equipamentos públicos, veículos de transporte voltados às pessoas, que devem ser tratadas como “clientes”, num serviço público que é essencial e vital para a inclusão social e para o desenvolvimento econômico.

·        Inovação e Sustentabilidade - as soluções de transporte devem buscar novas tecnologias voltadas ao homem, modos mais limpos, mais silenciosos e eficazes, de melhor coesão e de resposta às rápidas mudanças demográficas.

·        Conectividade - A efetiva integração de diferentes redes da cadeia logística de abastecimento e dos transportes de pessoas é essencial para que haja uma mobilidade eficiente e sustentável.

Por fim, os desafios da mobilidade urbana não se resolverão apenas no âmbito técnico. O conflito de interesses é inevitável, seja na disputa do orçamento público, na decisão de localização das atividades na cidade, no uso da propriedade urbana ou na concessão dos serviços públicos. Sendo assim, é necessário o fortalecimento e aperfeiçoamento das instituições democráticas, interlocução política, a efetiva participação social na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas para a mobilidade.

Texto publicado no Jornal A Notícia em 22 de julho de 2012