Urbanistas
e cientistas sociais afirmam que a mobilidade é um dos fenômenos mais
importantes da sociedade contemporânea. Na medida em que a humanidade foi se
urbanizando, ocupando territórios, a mobilidade passou a ser um elemento fundamental
na dinâmica demográfica, no desenvolvimento econômico, congregando fenômenos
imprescindíveis para compreender as transformações no mundo atual. Acessar serviços ou bens ocupa hoje posição chave
no processo de urbanização e,
o modo como pessoas podem ou escolhem para se deslocar afeta diretamente a
qualidade de vida urbana.
Os
deslocamentos pendulares, espaciais de curta duração ou em grandes distâncias refletem
impactos cada vez mais significativos na dinâmica socioespacial envolvendo muitos
fatores e processos distintos que estão na base estrutural do sistema produtivo
e no cotidiano dos cidadãos, englobando o sistema de transportes (de pessoas e
mercadorias), a gestão pública do território, o desenho urbano, as interações
espaciais e as dinâmicas demográficas específicas (estrutura familiar,
migração, ciclo vital).
Então, quais são os grandes desafios que devemos
enfrentar na mobilidade urbana?
Joinville
é uma cidade com um nível elevado de acumulação e concentração de atividades
econômicas sobre complexas estruturas espaciais urbanas, muitas sem conexões,
que deveriam estar suportadas por eficientes sistemas de transporte. Na medida
em que a cidade cresce, maior é a complexidade e o custo das soluções assim
como o potencial para que apareçam rupturas.
O
primeiro passo para achar soluções é reconhecer nossas fragilidades, passando
por um processo de pesquisa, estudo, planejamento e debate sobre o futuro que
desejamos. Sem estas bases reconhecidas deixamos de praticar soluções para
sistemas de transporte eficientes à livre circulação de pessoas e bens,
essencial para a prosperidade econômica e melhoria da qualidade de vida. Passada
a primeira década deste século, não dispomos de um plano de mobilidade urbana,
instrumento fundamental para a construção daquilo que hoje chamam de “Cidade
Inteligente”. Ficamos então à deriva, sem soluções eficazes, senão um rosário
de promessas não cumpridas.
Hoje
vivenciamos a apropriação integral do sistema viário pelo automóvel em
detrimento de sistemas de transporte de massa, coletivos e eficientes. Os
espaços de uso público, especialmente os passeios, são territórios órfãos
sujeitos aos mal-tratos e
as inadequadas condições de mobilidade e acessibilidade urbana, que também se constituem
em barreiras efetivas para inclusão social. A cidade há muito não recebe
investimentos estruturantes e navega num “dolce
far ninte” a espera do milagre.
Nos
raros debates observo a ausência de conhecimento, informação, transparência
sobre o tema, motivo que protela soluções para cada 4 anos, dando a impressão que
ninguém está disposto a assumir compromissos, que devem ser mútos (governo e
sociedade).
O tema é vasto, trata de economia, meio ambiente, saúde, educação, tecnologia,
etc, mas existem alguns tópicos para abordar a mobilidade urbana aos quais não
devemos fugir:
·
Uso do solo – a
questão da mobilidade não pode ser fragmentada, somente sobre a circulação de
veículos, deve ter como foco as pessoas, à organização territorial e à
sustentabilidade. O conceito de mobilidade se apoia na integração do
planejamento do uso do solo com o dos transportes;
·
A transferência
modal e a intermodalidade – Seja para pessoas ou mercadorias, a possibilidade de
realizar transferências modais pode ser uma saída para a mobilidade urbana. Por
exemplo: o parqueamento (usuários dos automóveis para transporte coletivos em
áreas periféricas ao centro); o modo cicloviário com o sistema de transporte coletivo;
diversas modais integradas à modais de maior capacidade, etc. No transporte de mercadorias,
o fracionamentos e transbordos que facilitem a logística de distribuição,
reduzindo congestionamentos e o custo dos insumos.
·
O transporte
urbano - o transporte público, não motorizado ou sustentável deve ter
preferncia sobre o transporte motorizado individual. A postergação do plano de
mobilidade retém novas formas de operação para os sistemas coletivos nos
colocando em desvantagem. Os automóveis tomam as ruas e, o transporte coletivo
perde importância. Necessitamos de corredores exclusivos, rede cicloviária, felxibilização
nos transbordos, modernização dos equipamentos públicos, veículos de transporte
voltados às pessoas, que devem ser tratadas como “clientes”, num serviço
público que é essencial e vital para a inclusão social e para o desenvolvimento
econômico.
·
Inovação e
Sustentabilidade - as soluções de transporte devem buscar novas tecnologias
voltadas ao homem, modos mais limpos, mais silenciosos e eficazes, de melhor
coesão e de resposta às rápidas mudanças demográficas.
·
Conectividade -
A efetiva integração de diferentes redes da cadeia logística de abastecimento e
dos transportes de pessoas é essencial para que haja uma mobilidade eficiente e
sustentável.
Por
fim, os desafios da mobilidade urbana não se resolverão apenas no âmbito técnico.
O conflito de interesses é inevitável, seja na disputa do orçamento público, na
decisão de localização das atividades na cidade, no uso da propriedade urbana
ou na concessão dos serviços públicos. Sendo assim, é necessário o
fortalecimento e aperfeiçoamento das instituições democráticas, interlocução
política, a efetiva participação social na formulação, acompanhamento e avaliação
das políticas públicas para a mobilidade.
Texto publicado no Jornal A Notícia em 22 de julho de 2012
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