quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CACHOEIRA, UM RIO TEIMOSO

Para aqueles que visitam este blog, mas não conhecem Joinville, o Rio Cachoeira é o nosso Tietê, menor em largura e extensão, mas absolutamente idêntico quanto à poluição das águas, ao odor e ao colorido "chernobilesco" que ora é negro, ora marrom e, algumas poucas vezes ao dia, esverdeadas pela influência da maré que adentra seu leito invertendo o sentido da corrente.

Num domingo, em julho de 2009 pela manhã, fui caminhar pelas margens do Rio Cachoeira para dar uma olhada nas figueiras, aquelas árvores frondosas e exóticas que alguns mal intencionados tentam cortar a qualquer custo sob justificativas absurdas e teatrais.

Para minha surpresa descobri que, mesmo moribundo, o rio ainda fornece muita vida, confirmando a importância que a água tem para a sustentabilidade do planeta.

Com uma lamentável e absurda poluição, o Rio Cachoeira ainda serve à muitas espécies como habitat, de onde retiram sustento, fazendo-me imaginar qual seria a imagem espetacular se este rio estivesse limpo. São milhares de litros de esgotos despejados in natura todos os dias, outros milhares de litros de efluentes tóxicos despejados pelas indústrias que ainda não dispõe de um sistema eficiente de tratamento.

O rio também é o maior lixeiro da cidade de Joinville onde toda sorte de resíduos sólidos são jogados em suas águas, dificultando sua vazão, um fato que pode ser facilmente percebido nas milhares de garrafas, sacos e recipientes plásticos que bóiam sobre suas águas. Mais estarrecedor é que nínguém faz nada, seguindo esta incrível mazela a nos envergonhar.

Naquele domingo de julho também conheci o famoso jacaré que habita o rio, nas proximidades da área central da cidade, cujo nome foi dado como "Fritz", certamente uma alusão carinhosa aos nossos primeiros descendentes. 

Imagino que os antepassados do jacaré "Fritz" tivessem conhecido nossos primeiros imigrantes e´, posso também imaginar o tamanho do susto que os primeiros exploradores levaram ao encontrar jacarés por aqui.

Hoje, ao conhecer o "Fritz" tomando seu banho de sol, me abateu uma profunda vergonha e indignação, mesmo sabendo que ele, o jacaré, pode ainda sobreviver solitário nestas águas podres.

Admirado por encontar o jacaré, também me surpreendi com a quantidade de outras espécies de aves e seus filhotes atravessando o fétido rio em busca de alimento. É uma inequivoca demonstração de como a natureza resiste às mazelas do homem.

A regeneração do Rio Cachoeira é urgente. Recuperar a qualidade de suas água certamente irá multiplicar o número de espécies a viverem neste singelo e delicado ambiente ao mesmo tempo que será a maior demosntração da nossa capacidade de resgatar um pouco da natureza já tão maltratada.

Verdadeiramente seria meu maior sonho como joinvillense ver o rio limpo, com seus peixes, pássaros, répteis, crustáceos e toda sorte de fauna que aqui já habitou.

Nossos antepassados e seus descendentes transformaram o Rio Cachoeira numa tragédia ambiental e, como um dos descendentes, não posso me excluir da responsabilidade.

Deixo algumas fotos do passeio dominical que me fez conhecer melhor uma fauna que não reconhecço cientificamente, mas deixou-me absolutamente encantado.

O Rio Cachoeira nasce e morre dentro dos limites urbanos da cidade de Joinville e, na minha modesta opinião e auto crítica, transformou-se na exata expressão da nossa fraca cultura, da ignorância e da nossa pouca educação ambiental. Precisamos urgentemente mudar hábitos, pois só assim podemos mudar o rio. Se conseguirmos, seremos dignos de títulos e merecimentos e, enquanto isto, oremos para que o Rio Cachoeira continue a ser teimoso, mantendo as chances de resgatar sua vitalidade.

Este artigo foi postado originalmente na blog: http://gollnick.blog.terra.com.br/2009/07/19/cachoeira-um-rio-teimoso/

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