segunda-feira, 4 de abril de 2011

JOINVILLE - MEMÓRIA E CENTRALIDADE EM ABANDONO

Rua XV de Novembro - 1926

Domingo, 15h30min, parei em frente à Farmácia Catarinense da Rua XV de Novembro, ali no centro de Joinville onde permaneci estacionado por uns quinze minutos. Neste breve, ao mesmo tempo longo, período não vi ninguém caminhando pela rua, nenhuma única alma, nenhuma criança acompanhada dos pais, nenhum jovem ou adolescente, nenhum idoso, nem mesmo um andarilho ou mendigo. Esta visão chocou-me, pois era a pior visão possível de um espaço público central que recheia minha memória com bons momentos na infância e adolescência, o mesmo espaço público que hoje é negado ao cidadão. 

Esta situação somada a tantas outras em que o abandono já impõe sua marca, nos leva a ter uma cidade totalmente carente, desprovida de opções para o lazer e entretenimento público gratúito. Hoje, chegamos ao absurdo de ouvir representantes do poder constituído negarem a possibilidade de que um dia a sociedade possa usufruir de algo que é comum em toda cidade que almeja qualidade de vida a seus habitantes, áreas públicas bem estruturadas e cuidadas. 
Lembrei também que ali, naquela rua haviam árvores frondosas que foram plantadas na década de oitenta quando foi realizada a última intervenção urbana na rua, 
mas que há pouco mais de um ano foram sumariamente arrancadas sem qualquer bom pretexto. Percebi que os passeios permanecem abandonados, esburacados e sem qualquer cuidado, que a sujeira e o capim crescem. Defrontei-me com pilhas de sacos de lixo largados nos passeios e percebi todas as lojas cerradas com portões de aço sem uma vitrine sequer à mostra. Por fim, atentei-me para a arquitetura, que outrora resplandecia e hoje está totalmente alterada, descaracterizada e sem qualquer cuidado com a memória.
Infelizmente, eu não tinha uma câmera à mão para registrar aquele exato momento onde o abandono e desprezo estariam inexorávelmente registrados, confirmando minha suspeita de que a cidade segue o caminho da autofagia das mais preciosas identidades.
A visão também levou-me ao tsunami do Japão. Lá, eles foram vítimas de um fenômeno natural absurdo que arrasou, em questão de minutos, cidades inteiras, bem planejadas e cuidadas, ceifando milhares de vidas e uma longa história, mas nunca a memória.  Aqui, temos um outro tsunami, uma onda que lenta e gradualmente arrasa nossa capacidade de autocrítica e discernimento, que destrói as nossas relações de identidade com o passado e com a nossa história e que vem destruindo a capacidade de indignação e reação da sociedade.

Esta foto tirada em 2007 - observe a quantidade de árvores que foram cortadas.


 

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