O indivíduo e a sociedade em geral têm reações muito curiosas quando ocorrem eventos trágicos. A tragédia do massacre no Rio de Janeiro tem um efeito de espetáculo pela forma ridícula que é explorada por uma imprensa sensacionalista, destituída de pudores, que tem como objetivo único vender espaço e, por conta disto, faz voltar os olhos unicamente ao indivíduo, o agressor ou assassino, colocando uma legião de especialistas e jornalistas a alimentar todo e qualquer tipo de cenários e conjecturas sobre qual seria o histórico, desvio psicológico e social, envolvendo qualquer pessoa que possa render um comentário, mesmo que ridículo, para explicar, bem devagar, qual seria a motivação do indivíduo para sair de casa visando matar crianças.
Não surge nestas conjecturas e avaliações perguntas como: Porque um indivíduo pode ter em seu poder duas armas fabricadas por uma indústria que, mesmo em tempo de paz, comercializa oficialmente ou ilegalmente em qualquer esquina do país, instrumentos que levam a morte. Estas armas matam milhares de pessoas todos os anos, seja na prática do crime, pela mão de desajustados psicóticos, por suicidas ou pelas próprias autoridades, civis e militares no combate ao crime.
Nesta mesma semana em que crianças foram covardemente assassinadas no Rio de Janeiro, centenas de outros jovens morreram ou mutilaram-se nas ruas das cidades brasileiras portando outra arma mortal - motocicletas ou as BIZ, veículos que invadem como enxame o país, sem qualquer fiscalização e restrição. Nesta semana, antes mesmo do massacre do Rio de Janeiro, defrontei-me com seis acidentes envolvendo a tal da BIZ, um veículo frágil desprovido de meios de proteção eficazes que servem hoje como o meio de transporte individual, o que mais cresce no país. Dois destes acidentes foram em estradas federais, ambos com vítimas fatais. As vítimas dos acidentes com moto são, em sua imensa maioria, jovens que acabam mutilados e, de tão comuns, não mais geram qualquer indignação por parte da sociedade e, por consequência, qualquer ação das autoridades.
Não existe controle sobrea venda de armas, assim como não existe qualquer restrição à venda de motocicletas, que são comercializadas em prestações de oitenta reais por mês, conduzidas por uma imensa maioria de jovens adolescentes despreparados psicologicamente para enfrentar um caótico e mortal trânsito.
Se fizéssemos uma avaliação mais profunda das causas, formas, motivações e meios pelo qual ocorrem tantos traumas e tragédias familiares, adotando ações mais efetivas de controle e regulamentação, certamente teríamos menor probabilidade de nos surpreendermos evitando milhares de vítimas todos os anos.
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