segunda-feira, 21 de junho de 2010

UTOPIAS - COPA versus MOBILIDADE URBANA


Em 2009, quando a Fifa divulgou as 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, a estimativa de gastos com estádios era de R$ 3,7 bilhões. Menos de um ano depois e, poucos dias antes do prazo-limite para o início das obras, o valor ganhou acréscimos e subiu para R$ 5,07 bilhões. Com a eliminação do Morumbi e, talvez da Arena da Baixada, o valor deve saltar para R$ 6,7 bilhões de reais, dos quais 70% serão com recursos dos cofres públicos. A esta conta deve ser adicionados outros 10 bilhões em infra-estrutura como aeroportos, transporte aos estádios e uma serie de outras exigências que serão bancadas com recursos públicos.

Fiz esta introdução por conta de que, já há algum tempo, falo sobre uma necessária mudança de modelos e tecnologias de transporte público para cidades de médio a grande porte, dentre os quais defendo a utilização do transporte sobre trilhos, ou o VLT, que traduz modernidade, qualidade, grande capacidade e utilização de energia limpas, não poluentes.

Mas toda a vez que falo em VLT, alguns incomodados me chamam de sonhador, por vezes em tom de ironia dizem que somos um país pobre, que não temos condições financeiras para optar por esta tecnologia de transporte. Enfim, dizem que isto é uma utopia e devemos ser realistas. Para eles o realismo é andar nestes zarcões que fazem do sistema de transporte um suplício, dos que dele necessitam, ou dos que deles abrem mão como opção de transporte depois que conseguiram ter o seu carro.

Voltando a Copa e fazendo algumas contas, cada estádio para a Copa de 2014 custará, em média, 550 milhões de reais. O estádio será uma obra que somente terá um uso intensivo durante o mês da Copa, atendendo uma demanda estimada em um milhão de torcedores. Depois, ninguém sabe qual será o destino destes estádios nem como eles serão mantidos.

Continuando a fazer contas, com estes mesmo 550 milhões de reais, de um dos estádios, poderíamos implantar na cidade de Joinville, por exemplo, 25 quilômetros de linhas troncais para o “utópico” VLT. Atenderíamos 8 milhões de passageiros/mês diuturnamente nos primeiros 5 anos podendo chegar a 15 milhões de passageiros/mês ao longo de 25 anos. O payback (*) deste investimento é muito mais atrativo e seguro do que os estádios para uma Copa, se realizadas em parcerias público-privadas ou concessões. Nem vou analisar outros benefícios sociais, econômicos e ambientais, diretos ou indiretos, deste investimento. Ao todo, os 6,7 bilhões de reais poderiam criar 270 km de linhas de VLT, transportando 150 milhões de passageiros/mês.

Curioso é que para a Copa de 2014, desejada por muitos, um grupo do qual não faço parte, existe o tal dinheiro que não existe para o transporte público ou para a mobilidade urbana. Estão sendo priorizados recursos do orçamento federal para investimentos em estádios e obras de infra-estrutura de suporte aos visitantes em detrimento de investimentos necessários e inadiáveis para a melhoria da mobilidade urbana, saneamento, saúde e etc. Para realizarmos a Copa somos ricos, mas para investir no transporte público somos pobres. Neste contexto eu ainda sigo na minha utopia e, certamente, ela tem maior chance de reduzir as desigualdades do que uma Copa do Mundo.

(*) Payback é o tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento.

2 comentários:

  1. Infelizmente, a Copa de 2014 no Brasil, mais especialmente SP, tem interesses "clubísticos" antes do que qualquer ação.

    O Morumbi teria condições sim de sediar a Copa de 2014, mas, o mais importante é construir um novo estádio para um dos grandes clubes de SP que ainda não tem um estádio, ao mesmos moldes com o que foi feito com o Engenhão no RJ para O botafogo...

    Enquanto isso, VLT's, trem-bala, não saem nem da etapa do planejamento...

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  2. E ah, estive pensando hoje de tarde...
    Existe um Interesse de algumas pessoas envolvidas com empreiteiras, etc.

    É muito mais conveniente construir algo novo, do que melhorar algo já existente.

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