Entre o mito e a realidade existe uma tênue linha que os diferencia. Um pode preceder ao outro e vice-versa. E existem os mitos confirmados pela realidade. O exercício que faço está pautado sobre o texto (abaixo) publicado no Jornal A Notícia, em Joinville, no dia 15 de junho.
Eis o texto e algumas apreciações.
MI(n)TOS
por Marcel Virmond Vieira*
Em Joinville, cultivam-se com esmero alguns mitos, mesmo que não resistam a uma primeira vista da razão. Desde que me conheço por gente – já faz algum tempo –, ouço falar em questões que, sempre em voga como essenciais, na verdade têm feito pouca ou nenhuma diferença na vida de nossa cidade. Umas já estão sepultadas, como as lendas de que, como a cidade teria sido construída sobre o mangue, as ruas não poderiam ser asfaltadas, tampouco poderiam ser construídos edifícios com 12 andares ou mais.
O Mito: Construir sobre terrenos alagadiços é caro e desaconselhável.
A Realidade: Construir sobre terrenos alagadiços é caro e totalmente desaconselhável. Em Joinville, boa parte da cidade foi construída sobre terrenos alagadiços que após aterrados e estaqueados passaram a ser edificados. Uma boa parte dos bairros e suas divisões em novos bairros surgiram sobre terras alagadiças, como também ocorreu na área central da cidade.
A Conclusão: O homem, na sua vã ignorância, insiste em não observar alguns princípios básicos de convivência com o ambiente de entorno e, utiliza de suas “tecnologias” para edificar em qualquer lugar, seja nos mangues, alagadiços, encostas, etc. Quando ocorre algum desastre, a culpa passa a ser daquela dama má e cruel, a "Natureza". Curioso é que nem mesmo o estudo melhora a capacidade do discernimento sobre assuntos tão óbvios e atuais, discutidos em fóruns pelo mundo afora e a todo o momento. Triste é perceber que opiniões tão avassaladoras contrárias aos conceitos de sustentabilidade estão conduzindo “a vida da nossa cidade”. Talvez, por estarem anestesiados pela picada da mosca do poder, que já dura uns bons aninhos, não mais percebam as sandices que produzem ou defendem. Seguem achando que a Guernica local é apenas um quadro bonito, sem entender seu real significado.
Conclusão 2: De tão confusos que estão nossos maestros sobre mitos e realidades, já nos fizeram a sugestão de que a cidade estaria bem melhor instalada se fosse edificada em Barra Velha (litoral de SC). Talvez não seja apenas uma maluquice, talvez seja mesmo o que passa pelas cabeças “desiluminadas” no poder local.
Outras ainda ecoam na voz de lideranças importantes. Uma delas é o famoso distrito industrial da zona Sul. Ora, o Plano de Estruturação Urbana de 1987 recomendou e a lei 27/96 institucionalizou a possibilidade de se construir indústrias na zona Sul e ao longo das rodovias há mais de 15 anos, mas ainda se repete que não há um distrito industrial na zona Sul. Não há, nem haverá nos moldes antiquados daquele implantado no início dos anos 70 em Pirabeiraba. Mas indústrias na zona Sul já se contam às centenas.
O Mito: A cidade de Joinville não dispõe de um distrito industrial na zona sul.
A Realidade: A lei de zoneamento em vigor estabelece diferenciações para atender as diversas tipologias de indústrias, especialmente com maior carga de passivos ou necessidades logísticas. Esta carga de passivos exige alguma estruturação e precauções para que as logísticas complexas (infraestrutura, resíduos, energia, água, efluentes, transporte coletivo, etc.,) existam e não conflitem com outros usos de menor impacto ou, estejam atendidas por critérios que permitam os "mínimos operacionais". Portanto, se existe na zona Sul indústria às centenas é porque a lei flexibilizou esta instalação para algumas atividades. Dispor de uma regulação capaz de atender empreendimentos estruturados é algo relativamente complexo e, tem sido aplicado em locais que reconhecem as boas práticas de políticas para o desenvolvimento urbano, econômico, ambiental e social, coisa que aqui em Joinville é absolutamente um MITO.
A Conclusão: A missiva deve estar fazendo referência, quando cita “voz de lideranças importantes”, a AJORPEME que por muitos anos advoga um espaço urbano destinado para indústrias com médio impacto, de pequeno e médio porte, na zona Sul da cidade. Por quê?
Porque o distrito industrial da zona Norte é o único espaço que permite tipologais industriais de natureza impactantes mas, está nas mãos de alguns poucos latifundiários urbanos que estabeleceram valores impraticáveis ao mercado para os pequenos empreendedores.
Porque na zona Sul existem inúmeros empreendedores impedidos de expandir suas instalações pela lei atual.
Porque a mão de obra qualificada está na porta e porque, lá na zona Sul, há condições de implantá-las se estruturadas convenientemente por um planejamento bem elaborado, entendendo suas especificidades e demandas, avlainado as necessidades de infraestrutura que devem estar disponível, previstos em uma série de enunciados urbanísticos necessários à sua viabilização.
Aqui se da atenção apenas para quem é grande e forte. Os governos têm sido práticos e fáceis para ceder privilégios aos “grandes negócios”. Entregamos um pedaço da cidade, seja ele área urbana ou rural, para montadoras ou condomínios "chiques" ou ainda, permitimos que sejam cedidas vias públicas para grandes redes de supermercados, sem a menor cerimônia.
Porque o distrito industrial da zona Norte é o único espaço que permite tipologais industriais de natureza impactantes mas, está nas mãos de alguns poucos latifundiários urbanos que estabeleceram valores impraticáveis ao mercado para os pequenos empreendedores.
Porque na zona Sul existem inúmeros empreendedores impedidos de expandir suas instalações pela lei atual.
Porque a mão de obra qualificada está na porta e porque, lá na zona Sul, há condições de implantá-las se estruturadas convenientemente por um planejamento bem elaborado, entendendo suas especificidades e demandas, avlainado as necessidades de infraestrutura que devem estar disponível, previstos em uma série de enunciados urbanísticos necessários à sua viabilização.
Aqui se da atenção apenas para quem é grande e forte. Os governos têm sido práticos e fáceis para ceder privilégios aos “grandes negócios”. Entregamos um pedaço da cidade, seja ele área urbana ou rural, para montadoras ou condomínios "chiques" ou ainda, permitimos que sejam cedidas vias públicas para grandes redes de supermercados, sem a menor cerimônia.
Outro tema mitológico é a Vigorelli. Cada vez que uma reivindicação da Vigorelli aparecia, parecia que vinha da maior comunidade da cidade. Pois contam-se no local cerca de cem famílias residentes, das quais pouco mais de 40 têm relação com atividades náuticas ou pesqueiras.
O Mito: A “Vigorelli” nunca foi um mito.
A Realidade: A Vigorelli passou de um frustrado empreendimento ítalo-brasileiro para uma área de lazer e uma pequena comunidade pesqueira. Ali se fez a “praia” da cidade, dos excluídos e daqueles que gostam de pescar na Baia da Babitonga ou no canal do Palmital. Limitada a um espaço de oito hectares, a Vigorelli precisa de algum ordenamento e cuidados ambientais com o seu entorno por se tratar de uma área importante para o ambiente natural da cidade.
A Conclusão: A Vigorelli existe e se sustenta pela sua particular riqueza ambiental, de atração e de lazer. Cuidar deste ambiente é saber valorizar os espaços da cidade. Ignorá-la, será suprimir aos poucos a sua riqueza.
O terminal central é outro tema de discussões. Naturalmente que por pessoas que não utilizam o transporte coletivo no dia a dia e veem na concentração de ônibus uma espécie de ameaça. Para eles, os ônibus são como dragões, não veículos do povo. Já quem usa o terminal central quer melhorias, mas jamais sua eliminação.
O Mito: O Terminal Central sustenta o sistema de transporte coletivo.
A Realidade: O Terminal Central conspira contra a capilaridade do sistema de transporte urbano de Joinville e, não sustenta uma inversão da já permanente tendência que reduz drásticamente a utilização do meio de transporte coletivo. Assim, o Terminal serve unicamente para a divisão de receita operacional, mais nada.
A Conclusão. Desde o final da década de 90, uma pesquisa de OD apontava que o terminal central estava perdendo a importância estratégica de transbordo para o transporte coletivo urbano, servindo meramente como o elo da transferência dos passageiros de uma empresa permissionária para a outra. Esta falha foi apontada como grave pela consequencia do custo ao usuário (duas passagens), servindo apenas como uma eficiente forma de divisão operacional física e financeira. As integrações não necessitariam utilizar única e exclusivamente este nobre espaço central. No Plano de Transporte de 1988, realizado em conjunto com o GEIPOT, (o único plano realmente gerido pela Prefeitura), a proposta previa implantar um anel central de transporte com estações de integração e transbordo ao longo do percurso, priorizando os corredores para as linhas diametrais (eliminando a integração na área central), indicando que fossem investidos recursos para criação de um novo eixo Norte-Sul, através da Florianópolis, Procópio Gomes e Beira-Rio. O governo seguinte delegou às empresas permissionárias a gestão e continuidade do plano de transporte e a ideia foi sepultada. Por quê? Porque haveria uma mudança radical na relação da repartição das receitas operacionais e do equilíbrio de passageiros transportados. A mudança levaria a necessidade de reavaliar as condições e formas de operar o sistema, assunto que não interessava. Falar sem saber bem do que se está tratando pode ser considerado como um natural desconhecimento porém, há razões para acreditar que a defesa do contexto não é casual.
Formadores de opinião com grande audiência propagam a necessidade urgente de construirmos viadutos, alicerce indispensável à integridade de seu amor-próprio, mais que à fluidez do trânsito.
O Mito: Viaduto é ruim.
A Realidade: A rigor, viaduto é uma infraestrutura viária que pode ser utilizada para resolver problemas de trânsito ou tráfego. Imaginar que embaixo de um viaduto venha nascer favelas é apenas uma afirmação para desviar o foco do problema ou de objetivos e propósitos para melhorar a mobilidade urbana, fazendo imaginar que não existem políticas públicas para resolver a questão habitacional.
A Conclusão: Usar viadutos em Joinville surgiu como uma solução para os problemas de tráfego, especialmente por quem tem pouco conhecimento sobre planejamento e projetos relacionados a sistema viário. No entanto, excluir totalmente esta alternativa também não é a melhor forma de convencimento, visto que os viadutos servem como solução eficiente para algumas situações onde volume de tráfego, cruzamento de fluxos, características locacionais, finalidades e classificação das vias os recomendam, sem antes analisar outras alternativas. A bem da verdade, um Plano de Mobilidade Urbana seria bem vindo já há muito tempo e, se bem elaborado, poderia nos oferecer uma visão mais transparente das alternativas e prioridades. O problema é que nada temos, nada surge de concreto, novo e palpável por aqueles que tem a responsabilidade da fazer a gestão desta questão. Sem estudos, propostas e soluções, surge na sociedade a criatividade das soluções que florescem e merecem respeito.
Mas o mito mais atual e perverso é o de que uma meia dúzia de três ou quatro pseudoespecialistas em cidades sabem mais de urbanismo que todos os que trabalham no assunto há décadas. Vão se apresentando de entidade em entidade semeando desinformação, propostas sem viabilidade e fundamentação, e críticas vazias sobre tudo que o urbanismo oficial propõe, alegando que agem apenas por amor a Joinville.
O Mito: A cidade tem um planejamento reconhecido e eficiente.
A Realidade: O mito tenta se confirmar nas raras aparições dos responsáveis pelo "urbanismo oficial" que expõe uma cidade irreal, distante daquela que milhares de cidadãos percebem e, onde alguns se manifestam. Quando se vê alguns "urbanistas oficiais" baterem no peito se auto definindo como conhecedores dos temas e problemas da cidade, refugiados em seus aquários de vidro sem nada apresentar como palpável, esquecem que esta mesma cidade pensa, reage e tem o direito de manifestar críticas e opiniões.
A desinformação não surge explícita no cotidiano a olhos vistos. A desinformação não costuma ser aberta aos debates e diálogos que estão crescentemente surgindo e permeando diversos segmentos e entidades da sociedade. A desinformação não progride em ambientes transparentes e democráticos.
A desinformação a que se refere a missiva deve ser aquela que tem como alvo do descrédito, o hábito de impugnar ideias, de conceber levianamente factóides a quem esta disposto a debater e propor. A desinformação é aquela que usa meios oficiais e oficiosos para iludir, que está sendo semeada em bastidores, em salas de reuniões, em grupos que defendem seu status quo. A desinformação é pródiga onde se repetem mentiras tentando transformá-las em verdades, procurando convencer o público de que o pouco trabalho é suficiente ou, que a cidade é suficientemente dinâmica para absorver toda a sorte de abusos, absurdos, alterações e conversões, sejam elas sobre áreas de risco ou sujeitas a inundações, em solos frágeis e instáveis ou em áreas rurais, em áreas de domínio público ou em qualquer território que possa se promover, da noite para o dia, a mais valia, o lucro fácil, sem qualquer compromisso social e sustentável. A desinformação é escura, míope e covarde.
A desinformação não surge explícita no cotidiano a olhos vistos. A desinformação não costuma ser aberta aos debates e diálogos que estão crescentemente surgindo e permeando diversos segmentos e entidades da sociedade. A desinformação não progride em ambientes transparentes e democráticos.
A desinformação a que se refere a missiva deve ser aquela que tem como alvo do descrédito, o hábito de impugnar ideias, de conceber levianamente factóides a quem esta disposto a debater e propor. A desinformação é aquela que usa meios oficiais e oficiosos para iludir, que está sendo semeada em bastidores, em salas de reuniões, em grupos que defendem seu status quo. A desinformação é pródiga onde se repetem mentiras tentando transformá-las em verdades, procurando convencer o público de que o pouco trabalho é suficiente ou, que a cidade é suficientemente dinâmica para absorver toda a sorte de abusos, absurdos, alterações e conversões, sejam elas sobre áreas de risco ou sujeitas a inundações, em solos frágeis e instáveis ou em áreas rurais, em áreas de domínio público ou em qualquer território que possa se promover, da noite para o dia, a mais valia, o lucro fácil, sem qualquer compromisso social e sustentável. A desinformação é escura, míope e covarde.
Bem a propósito, o deboche permanente mostra que o respeito às entidades é algo que também merece um relato sobre mitos e realidades. O urbanismo oficial é muito levado a bajular entidades ricas que congregam poucos poderosos. Sentem-se orgulhosos em sentar nas enormes mesas ovais, pensado que isto lhes confere reconhecimento. Ficam desconfortáveis e não se prestam aos debates em mesas acanhadas, redondas, onde os interlocutores são considerados incapazes ou pseudo-especialistas perante toda a sua magnitude de informações.
A realidade para o "urbanismo oficial" só merece atenção quando os interlocutores são os donos da cidade e, para eles se prestam a fazer missivas e referências, esquecendo a enorme parcela da sociedade que constrói a cidade, que percebe com muita clareza o que é real e palpável.
A realidade para o "urbanismo oficial" só merece atenção quando os interlocutores são os donos da cidade e, para eles se prestam a fazer missivas e referências, esquecendo a enorme parcela da sociedade que constrói a cidade, que percebe com muita clareza o que é real e palpável.
A Conclusão. A realidade não confirma o mito. São já algumas décadas que os mesmos trabalham no "urbanismo oficial" e, mesmo que tentem se defender, estão devendo algo que mereça elogios rasgados, muito além dos bem elaborados projetos de arquitetura.
Que sejam julgados com cuidado, antes pela retrospectiva de suas gestões do que pelo seu discurso. A sociedade do futuro agradecerá.
O Mito: O julgamento é o que nos define.
A Realidade: Saber diferenciar os julgamentos das críticas ou censuras é incomum para alguns. Usar da franqueza, humildade, disposição ao debate, transparência, coragem, desprendimento, disposição para falar, ouvir, convencer e reconhecer não é simples como parecem às palavras. Nos temas mais complexos, que envolvem a sociedade, estas posturas são imprescindíveis para estabelecer um processo legítimo e, somente ao final, poder-se-á julgar comportamentos. Como estamos falando de processos, que não se encerram em data limite, é comum no gênero humano julgar outros antes se olhar no espelho para destituir-se das vaidades e dos egos.
A Conclusão. "Os que merecem elogios são os que melhor sabem suportar as censuras. " ( Alexander Pope )
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