terça-feira, 12 de abril de 2011

ESTÃO TIRANDO A ALMA DO MEU BAIRRO.


Alguns bairros de Joinville, vira-e-mexe, estão entre os mais cobiçados da cidade pela sempre gananciosa e inescrupulosa exploração imobiliária. Ou porque refletem de alguma maneira a personalidade de seus habitantes, ou pelo estilo de vida desejável que despertam, ou pela localização e aprazibilidade ou, e quase certamente, por tudo o que foi citado anteriormente somada à voracidade especulativa que não se contenta com o vasto território disponível, convertendo-se num voraz desagregador do tecido urbano. O pretexto único é ganhar dinheiro, nada mais. Boa parte desta ação se deflagra sobre áreas onde existe um patrimônio arquitetônico, ambiental, urbano e histórico mantido ou criado por cidadãos joinvillenses ao longo de 160 anos.

É quase como aquela propaganda de biscoitos: “É fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é mais fresquinho?”

Na lista  entram alguns bairros cujos destaques são o América, o Glória, o Atiradores e Anita Garibaldi. Estas regiões estão sobre forte pressão dos segmentos imobiliários que garimpam imóveis (terrenos e casas) considerados grandes “achados” na cidade de Joinville em que existem herdeiros ou proprietários desinteressados na manutenção que desejam convertê-los em algum dinheiro. Faz-se a opção de compra e venda e o passo seguinte é o convencimento dos nossos planejadores e legisladores de que aquele território é um excelente ponto para empreender, evoluir, "desenvolver a cidade", sem qualquer consulta mais ampla, estudos ou avaliações mais profundas acerca dos reflexos para os que ali habitam. Este engodo sem precedentes tem funcionado com uma eficácia de quase 100% para o desespero daqueles que lutam por uma cidade com maior qualidade de vida ambiental e urbana, uma tarefa que tem se tornado quase impossível - a busca da sustentabilidade preconizada no Plano Diretor.

Quando 70% do público de classe média e média alta querem morar no América, Atiradores, Glória ou Anita Garibaldi, segundo algumas pesquisas do segmento imobiliário, não haverão obstáculos em ocupá-los com prédios. Por quê? Justamente porque são bairros residenciais unifamiliares que desfrutam de um bom ambiente, onde as pessoas podem realizar boa parte das suas atividades a pé, onde existe um comércio de vizinhança sem geração de tráfego intenso, que privilegiam o verde, que ao longo da história construíram na cidade o viver bem, algo muito cobiçável hoje em dia onde o tempo de ir e vir qualquer lugar da cidade a bordo de um veículo motorizado tornou-se cada vez mais expandido.

Não percebem os planejadores e legisladores, os maiores avalistas destes abusos e absurdos, que os argumentos especulativos sobre as atuais atrações serão radicalmente descaracterizados, passando a transformar estes bairros valiosos para o tecido urbano num lugar comum, cheio de carros, caos no trânsito, congestionamentos, desprovidos de verde e das atrações originais. Seguindo o modelo que se impõe na cidade de Joinville, estamos a retirar a alma dos nossos mais tradicionais bairros.

A consequencia da fórmula iposta determina o fim do chamariz original que invariavelmente irá se acabar, mas os bolsos dos empreendedores e incorporadores estarão forrados. Pior de tudo isto é que me dá a impressão de que os responsáveis pelos destinos da cidade se alegram em protagonizar estes conflitos e em excluir o direito daqueles que desejam morar em regiões unicamente residenciais unifamiliares. Eis que me surge a seguinte frase de Adam Smith -  "A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram."

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