domingo, 16 de janeiro de 2011

ENSINO SEM QUALIDIDADE - ARQUITETURA E URBANISMO


O arquiteto e urbanista Siegbert Zanettini expressa sua opinião na AU - Arquitetura e Urbanismo de janeiro de 2011 de uma forma cirurgica quando afirma:

 "O ensino de arquitetura deixa a desejar na maioria das escolas do País. A produção do conhecimento em pesquisa é quase nula. Não são ministradas disciplinas que desenvolvam novas tecnologias, muito menos novas soluções para a estrutura urbana. Tampouco são propostos conhecimentos consolidados em ciências humanas, biológicas, exatas, econômico-administrativas e ambientais (incluindo ecoeficiência e sustentabilidade). Professores de projeto, em sua maioria, não exercem a atividade e não tem experiência gerencial em execução de obras. Por último, as escolas deveriam ser mais bem equipadas com bibliotecas, ateliês e, principalmente, ferramentas atuais de informática."

As escolas de arquitetura tem sido falhas na formação e na proposta de ensino da arquitetura e do urbanismo, especialmente aquelas que tem por objetivo maior faturar mensalidades. As faculdades privadas surgem numa lógica perversa da oferta de cursos da moda que atendem uma classe média-alta em cuja proposta mais perceptível é poder cobrar caro, oferecer pouco, pagar baixos salários aos professores e reduzir ao máximo o custo da produção do ensino. Nesta linha temos como resultado alunos sem qualquer qualificação e futuros profissionais desprovidos de conhecimento suficiente para atender uma demanda sempre mais exigente e criteriosa. Para o urbanismo o tema é muito mais sério, pois nenhuma escola na nossa região tem qualquer proposta ou condição de oferecer um curso denso o suficiente para atender este segmento. Passamos a ter profissionais desprovidos de senso crítico e de conceitos básicos sobre produção arquitetônica, que se notabilizam por usar os portfólios de produtos como argumento de projeto  e, as RT - Reserva Técnica, um sistema nocivo de oferta de comissão na indicação para venda de produtos de arquitetura, o mais expressivo resultado financeiro.

"(...)

Daí, a difusão acelerada de propostas que levam a uma profissionalização precoce, à fragmentação da formação e à educação oferecida segundo diferentes níveis de qualidade, situação em que a privatização do processo educativo pode constituir um modelo ideal para assegurar a anulação das conquistas sociais dos últimos séculos. A escola deixará de ser o lugar de formação de verdadeiros cidadãos e tornar-se-á um celeiro de deficientes cívicos.

(...)"


Milton Santos - Deficientes Cívicos


2 comentários:

  1. O quadro que pinta não é exclusividade da Arquitetura. Mas nas profissões em que a abordagem tecnologica é mais importante o problema é mais grave

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  2. É verdade, mas os profissionais de arquitetura são aqueles que necessito na minha atividade e, infelismente, o nível de formação é lamentável, abaixo até de cursos de curta duração. Mais lamentável ainda é saber que o preço a ser pago pelo curso é abusrdo se comparado a outras instituições privadas mais renomadas. Por exemplo, a Mackenzie em São Paulo cobra R$ 1.500,00 por mes mas conta com um dos mais importantes corpos docente do Brasil na área, sómente superado pela FAUUSP. A PUC Campinas, que tem aulas em regime de dois turnos e uma invejável estrutura de apoio ao aluno com bibliotca, laboratórios e salas de informática, cobra R$ 1.300,00 por mês; A Universidade Positivo tem certamente dum dos mais modernos campus (biblioteca, laboratórios, auditórios, teatro, etc.) do país e cobra R$ 1.350,00. A SOCIESC, que dispõe de um corpo docente mal pago, sem experiência profissional, sem estrutura física para ministrar o curso, cobrando R$ 1.200,00 por mês.

    Por experiência posso afimar que o nível dos alunos é muito abixo do mínimo esperado. Algumas escolas se especialzaram em ser caça níqueis e largam profissionais, se assim podemos dizer, sem qualificação e preparo.

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