sexta-feira, 16 de julho de 2010

EM BUSCA DA "CIDADE INTELIGENTE"

Ao participar dos atuais “debates” sobre o futuro da cidade, Plano Diretor, leis Complementares, Lei de mudança de usos, Fóruns e todo tipo de intenção que visa, de alguma forma, modificar as estruturas que compõe a cidade, começo a pensar em outras fórmulas de construir o futuro de Joinville.

Em todas as possibilidades imagino que a sociedade deve estar presente, não apenas de forma eventual. Cada vez mais me convenço que só podemos construir uma cidade com qualidade, se todos tiverem a oportunidade de participar. Não significa que devemos retirar do cidadão suas horas de folga e descanso. Não!  É necessário motivar a sociedade a vir participar de bons e bem estruturados debates, discussões sadias com linguagens coloquiais que amplifiquem os objetivos e melhorem a comunicação objetivando a construção uma agenda de compromissos positiva a fim de melhorar as formas de viver na cidade.

Esta minha reflexão vem se consolidando amparada em muita observação, leitura, debates técnicos, relação com segmentos sociais ou instituições das mais diversas origens e formatos. Começo a ter uma nova forma de ver o futuro da minha cidade. Talvez seja uma visão pessoal que se fixa num processo concentrado no uso da inteligência. Todos somos inteligentes, alguns com maior profundidade, outros com maior superficialidade, mas somadas estas inteligências podem desencadear um extrato de boas resoluções.

Inspirado num texto de Nicholas Brooke, escrito na The Go-to Place For Management, em que analisa os fundamentos das cidades de sucesso, captei a idéia de que precisamos construir a “Cidade Inteligente”, mirando em muitas premissas, não apenas da riqueza ou sucesso econômico. Além do sucesso econômico, do equilíbrio fiscal, a cidade necessita praticar a sustentabilidade, não apenas dispondo de uma boa infra-estrutura, de boas condições de habitabilidade ou da aplicação correta de praticas ambientais ou do correto uso do dinheiro público. A “Cidade Inteligente” precisa dispor de fundamentos corretos.

Eis que, entre tantas situações que defrontamos no dia-a-dia, dos passivos e demandas, dos fragmentos que não se encaixam, é necessário reunir um conjunto de informações e bons estudos para construir estes fundamentos. Eles passarão a fazer parte da nossa agenda local de compromissos, flexíveis para permitirem à cidade exercer sua dinâmica em bases éticas, responsáveis e inteligentes. Dos diversos fundamentos, arrisco aqui eleger alguns que podem servir para elucidar esta nova abordagem, surgidos das leituras, das observações, de estudos, da prática profissional ou de alguns conceitos já consagrados. Eis então àqueles que escolhi:

DIVERSIDADE – A diversidade econômica, cultural e social é um ingrediente indispensável para fazer uma cidade vibrante. Cidades dependentes de um único setor econômico ou muito vinculadas às decisões de um apequena elite são vulneráveis. Diversificar a base econômica, abrir o universo de interlocutores deve ser uma prioridade para qualquer cidade. Além disso, as cidades que acolhem a diversidade em todas as suas formas, incluindo a diversidade cultural, política e étnica são mais atraentes. Parece-me então que quanto maior a diversidade, melhor equipada a cidade para gerar criatividade.

BOA GOVERNANÇA - Uma cidade precisa compreender como instalar e manter sua infra-estrutura e os serviços que devem sustentar seus diversos ambientes com qualidade. Isso necessita de competências e estruturas eficazes de governança local. Boa governança exige líderes fortes com visão e espírito cívico. Liderança significa estabelecer relações de vínculo com a sociedade de onde devem emergir as estratégias e as parcerias.

FORÇA DE TRABALHO QUALIFICADA – As cidades que almejam liderança precisam de trabalhadores qualificados e confiáveis. Isto significa que as cidades necessitam investir na educação e na formação, desenvolvendo estreitas relações entre as escolas, universidades e empresas. Elas também precisam criar ambientes para atrair trabalhadores qualificados, gerar talentos no mundo acadêmico e promover uma cultura de inovação, investigação e desenvolvimento.

QUALIDADE DE VIDA - Sociedades criativas precisam ter muitas opções. Não é apenas um bom emprego que resulta em qualidade de vida. Dispor de um patrimônio histórico, ambiental, paisagístico é algo que faz a diferença. Dispor de espaços ou instituições para desfrutar e desenvolver a cultura resulta em bem estar e alimenta a inteligência. Dispor de áreas verdes para contemplação, recreação e lazer é algo indispensável para ocupar o tempo ocioso.

CONECTIVIDADE – A comunicação com o mundo exterior é crucial. Sem um bom aeroporto e redes de transporte em diversas modais, a cidade não poderá dar seu salto para o status do qual imagina para a “Cidade Inteligente”. Da mesma forma, eficiência e qualidade na comunicação interna, sustentada por uma adequada rede de transportes públicos e de opções que privilegiem modos não motorizados de deslocamento, atendidos por uma infra-estrutura de qualidade, são essenciais para a circulação de pessoas, bens e serviços.

RENOVAÇÃO e REABILITAÇÃO - A recuperação, reabilitação ou renovação do patrimônio arquitetônico, paisagístico e da infra-estrutura é parte fundamental para qualquer estratégia urbana que almeje ser bem sucedida. Em muitos casos, este processo desenvolvido em áreas específicas, degradadas ou desvalorizadas, históricas ou de referência, funciona como um foco de atenção, bem como de geração de um “estado de espírito positivo” que coloca a cidade em movimento. Esta regeneração só funciona se combinada com a regeneração social, incluindo saúde e educação, necessários para suportá-los.

INOVAÇÃO - A introdução de novas técnicas e processos é a chave para a criação de empreendimentos baseados no conhecimento que geram altos padrões de vida. Nos últimos 30 anos, uma grande parte do crescimento da produção nos países desenvolvidos é resultado da inovação. A inovação depende de uma investigação forte e do estabelecimento de redes, envolvendo muitos segmentos e setores, público e privado, para gerar e compartilhar conhecimento.

PARCERIAS - Competir de forma eficaz necessita de um ambiente favorável entre organizações, sejam empresas, instituições não governamentais e setor público. Implica também em gerar novas regulações, reduzir a carga tributária, promover uma cultura de investigação, inovação e educação.

IDENTIDADE – Ser uma “Cidade Inteligente” é forjar uma identidade distinta. A globalização e outros fatores podem fazer com que as cidades sejam muito comuns entre si. É necessário preservar o seu caráter distintivo ou a "alma da cidade" e o desenvolvimento deve estar em sintonia com o espírito do lugar.

RELACIONAMENTO – As cidades com êxito quase sempre se tornam o coração de uma região bem sucedida. Compreender sua posição e a relação com seus vizinhos pode desenrolar num papel positivo ao nível regional e terá como conseqüência a distribuição de benefícios, gerando maior equilíbrio e competitividade.

Em resumo, para que o conceito de “Cidade Inteligente” tenha sucesso, para que a sustentabilidade venha a ser uma prática, ela não pode ser construída ou desenvolvida numa base demasiada estreita. O sucesso a longo prazo deve basear-se em transformações que ofereçam ambientes economicamente e culturalmente diversificados para uma elevada qualidade de vida. Conseguir o equilíbrio certo também exige líderes cívicos e éticos que tenham uma visão estratégica lastreada numa estreita parceria com todos os interessados na cidade.

2 comentários:

  1. Um texto muito bom. Mereceria ser mais divulgado, comentado e debatido.
    A leitura que eu faço, depois de ler o seu post é que Joinville esta ficando obtusa, estulta e cinza. Uma cidade que tinha um futuro tão promissor ficou medíocre, menor, do tamanho das suas lideranças.

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  2. O futuro está aí, resta saber como ele será. Podemos ser meros espectadores ou interferir nele, mas invariavelmente faremos parte dele.

    O texto pretende explorar as inteligências, que são muitas, mas econtram-se à sombra, escondidas, talvez não por omissão mas por falta de exploração novos espaços, novos contatos, novs idéias que estão disponíveis para a troca de experiências, mas não se conectam.

    A cidade é o resultado das atitudes coletivas, assim como os governos são o resultados das escolhas coletivas.

    A cidade é a jaula dos homens, e nós devemos saber melhorar o nosso cativeiro, inclusive na escolha do zelador.

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