LA VIE EN VILLE
Sérgio Guilherme Gollnick - Textos, opiniões, debates, fotos, curiosidades e tudo mais que tenha haver com o cotidiano, a arquitetura, o urbanismo, as políticas públicas, as tecnologias e demais aspectos relacionados com a vida nas cidades.
terça-feira, 28 de maio de 2013
domingo, 10 de março de 2013
Furacão sobre Cuba
Grande parte dos neurônios da esquerda triunfante brasileira foi irremediavelmente perdida na guerra fria. Com seus aliados cubanos, ela nos jogou no século passado durante a visita da blogueira Yoani Sánchez.
Sartre pediria um dose de absinto para entender que outro furacão ameaça Cuba: a revolução digital. Marx precisaria de boas almofadas para acomodar seus furúnculos no bumbum ao contatar que uma ditadura comunista não resiste ao avanço tecnológico e científico da humanidade.
Cuba e Venezuela estão ligadas por fibra ótica. Do ponto de vista técnico, a ilha poderia estar toda conectada ao mundo e, pela criatividade e boa educação de seu povo, achar novos caminhos para superar seu atraso econômico. Mas o instrumento não pode ser usado em sua amplitude porque ameaça a estabilidade do governo. Para que o governo exista o atraso precisa sobreviver.
Yoani não é a primeira voz dissidente em Cuba. Mas foi a que melhor usou a conexão com o mundo não só para divulgar seus artigos, mas para garantir algum nível de proteção diante da burocracia. De longe, com seus cabelos longos, saias compridas, pode sugerir aquela personagem que sobe no fio e desanda a fazer milagre no filme Teorema, de Pasolini. Mas é articulada, responde a todas as perguntas, até às mais provocativas, e certamente também foi arrastada para o século passado com aquelas pessoas gritando palavras de ordem.
Digo isso porque no seu blog confessou que a experiência com os militantes brasileiros lhe lembrou coisas parecidas em Cuba, sobretudo os gritos de "traidora" contra uma vizinha que iria para o Porto de Mariel na grande debandada permitida pelo governo. Numa entrevista ressaltou que nem os jovens cubanos usam mais o termo ianque. Um forte cheiro de naftalina exalou não só dos cartazes e gritos, mas de toda a história da campanha organizada pela embaixada cubana, com apoio do batalhão digital do PT.
O curioso é que dentre aqueles cartazes havia um que Yoani empunharia com naturalidade: o que pede o fim do embargo econômico à ilha. O problema é o bloqueio mental, porque torna mais denso o cerco econômico. A manobra articulada pelos cubanos e seus aliados na esquerda é típica de estrategistas que perderam o contato com a realidade. Constantemente obtêm o oposto do que projetaram.
A campanha contra Yoani ampliou a repercussão de sua visita ao Brasil e estendeu o halo de simpatia em torno de uma pessoa que luta pela liberdade de expressão. Em todos os contatos espontâneos ela recebeu carinho no País. Isso talvez tenha mostrado rapidamente a uma estrangeira que nossa política externa expressa a vontade de um partido dominante, não a vontade nacional.
Os neurônios perdidos na guerra fria fazem enorme falta à esquerda no poder. Por que não contestar com argumentos a luta pela liberdade de expressão num regime ditatorial? Simplesmente porque a burocracia cubana e, agora, a brasileira já não se dispõem ao debate, apenas à desqualificação dos que delas divergem.
No livro de Reinaldo Arenas Antes que Anoiteça segui, emocionado, alguns lances do aniquilamento de uma geração de intelectuais e poetas pelas forças da repressão. Percebi que, tanto nele como em Raúl Rivero e mesmo em Juan Pedro Gutierrez, que vive em Havana, existe um grande vínculo com a vida, com os sentidos, e intuí que talvez venha daí a força para prosseguir adiante, apesar da aspereza do cotidiano numa ditadura.
No dossiê que os burocratas cubanos prepararam contra Yoani consta que ela gosta de comer bananas e, às vezes, tomar cerveja com os amigos. Seu último fim de semana foi passado no Rio. Deve ter percebido que o crime que lhe atribuem é uma delinquência de massa, com tanta gente tomando cerveja num domingo de muito calor. A burocracia investe contra isso não apenas pela cerveja ou mesmo pelas bananas. Ela investe contra o prazer, contra a vida, da mesma forma que investiu contra os antecessores de Yoani. Esse é o núcleo indestrutível que ela não consegue alcançar. Suas táticas puritanas no Brasil, então, não têm a mínima chance de prosperar.
Yes, nós temos bananas. O Brasil não é só um grupo de caras de barba vociferando nas ruas e nos blogs. A passagem de Yoani foi uma contribuição nacional para iluminar a realidade cubana e dissipar a aura de romantismo em torno da revolução. Os adversários ajudaram, é verdade. Fizeram a parte do leão, admito. Se continuo nesse tom, acabo me empolgando e escrevendo que os adversários são bons companheiros, ninguém pode negar...
Em alguns momentos você pode errar de século ou mesmo de alvo. Os sequestradores do embaixador americano, em setembro de 1969, quase o confundiram com o embaixador de Portugal. Quando houve um quebra-pau em Minas na passagem do Brizola por BH, um pouco antes do golpe de 64, José Maria Rabelo era protegido por um segurança que socava todo mundo aos gritos de "vamos acabar com esses comunistas!". José Maria agarrou-o pelos braços e disse: "Comunistas somos nós, comunistas somos nós". E ele respondeu: "Ah, bem".
A recepção que cubanos e petistas eletrônicos deram a Yoani não tem a graça do século passado. É um equívoco que envolve o destino de 11 milhões de cubanos e a reputação internacional do Brasil. No passado, pelo menos, havia alguma imaginação. Se um dia a esquerda encastelada no poder for obrigada a voltar a lutar nas ruas por uma causa justa, estará perdida. Imaginem quem será convencido por um grupo de pessoas, narizes de palhaço, gritando coisas do século passado... Ainda não perceberam que o século passou e levou consigo a Juventude Hitlerista, os Guardas Vermelhos, deixando-nos apenas com uns estridentes palhaços chamando de traidora uma jovem mulher cuja vida é o exercício de liberdade.
Eduardo Suplicy bem que tentou fazê-los discutir, mostrar que tudo aquilo era absurdo. O embaixador cubano chegou a perguntar se o senador não era da CIA. Suplicy da CIA? Só quem não o conhece poderia pensar nisso. E quem conhece um pouco a CIA sabe que, apesar de todas as suas loucuras, não seria ousada a esse ponto.
Sartre pediria um dose de absinto para entender que outro furacão ameaça Cuba: a revolução digital. Marx precisaria de boas almofadas para acomodar seus furúnculos no bumbum ao contatar que uma ditadura comunista não resiste ao avanço tecnológico e científico da humanidade.
Cuba e Venezuela estão ligadas por fibra ótica. Do ponto de vista técnico, a ilha poderia estar toda conectada ao mundo e, pela criatividade e boa educação de seu povo, achar novos caminhos para superar seu atraso econômico. Mas o instrumento não pode ser usado em sua amplitude porque ameaça a estabilidade do governo. Para que o governo exista o atraso precisa sobreviver.
Yoani não é a primeira voz dissidente em Cuba. Mas foi a que melhor usou a conexão com o mundo não só para divulgar seus artigos, mas para garantir algum nível de proteção diante da burocracia. De longe, com seus cabelos longos, saias compridas, pode sugerir aquela personagem que sobe no fio e desanda a fazer milagre no filme Teorema, de Pasolini. Mas é articulada, responde a todas as perguntas, até às mais provocativas, e certamente também foi arrastada para o século passado com aquelas pessoas gritando palavras de ordem.
Digo isso porque no seu blog confessou que a experiência com os militantes brasileiros lhe lembrou coisas parecidas em Cuba, sobretudo os gritos de "traidora" contra uma vizinha que iria para o Porto de Mariel na grande debandada permitida pelo governo. Numa entrevista ressaltou que nem os jovens cubanos usam mais o termo ianque. Um forte cheiro de naftalina exalou não só dos cartazes e gritos, mas de toda a história da campanha organizada pela embaixada cubana, com apoio do batalhão digital do PT.
O curioso é que dentre aqueles cartazes havia um que Yoani empunharia com naturalidade: o que pede o fim do embargo econômico à ilha. O problema é o bloqueio mental, porque torna mais denso o cerco econômico. A manobra articulada pelos cubanos e seus aliados na esquerda é típica de estrategistas que perderam o contato com a realidade. Constantemente obtêm o oposto do que projetaram.
A campanha contra Yoani ampliou a repercussão de sua visita ao Brasil e estendeu o halo de simpatia em torno de uma pessoa que luta pela liberdade de expressão. Em todos os contatos espontâneos ela recebeu carinho no País. Isso talvez tenha mostrado rapidamente a uma estrangeira que nossa política externa expressa a vontade de um partido dominante, não a vontade nacional.
Os neurônios perdidos na guerra fria fazem enorme falta à esquerda no poder. Por que não contestar com argumentos a luta pela liberdade de expressão num regime ditatorial? Simplesmente porque a burocracia cubana e, agora, a brasileira já não se dispõem ao debate, apenas à desqualificação dos que delas divergem.
No livro de Reinaldo Arenas Antes que Anoiteça segui, emocionado, alguns lances do aniquilamento de uma geração de intelectuais e poetas pelas forças da repressão. Percebi que, tanto nele como em Raúl Rivero e mesmo em Juan Pedro Gutierrez, que vive em Havana, existe um grande vínculo com a vida, com os sentidos, e intuí que talvez venha daí a força para prosseguir adiante, apesar da aspereza do cotidiano numa ditadura.
No dossiê que os burocratas cubanos prepararam contra Yoani consta que ela gosta de comer bananas e, às vezes, tomar cerveja com os amigos. Seu último fim de semana foi passado no Rio. Deve ter percebido que o crime que lhe atribuem é uma delinquência de massa, com tanta gente tomando cerveja num domingo de muito calor. A burocracia investe contra isso não apenas pela cerveja ou mesmo pelas bananas. Ela investe contra o prazer, contra a vida, da mesma forma que investiu contra os antecessores de Yoani. Esse é o núcleo indestrutível que ela não consegue alcançar. Suas táticas puritanas no Brasil, então, não têm a mínima chance de prosperar.
Yes, nós temos bananas. O Brasil não é só um grupo de caras de barba vociferando nas ruas e nos blogs. A passagem de Yoani foi uma contribuição nacional para iluminar a realidade cubana e dissipar a aura de romantismo em torno da revolução. Os adversários ajudaram, é verdade. Fizeram a parte do leão, admito. Se continuo nesse tom, acabo me empolgando e escrevendo que os adversários são bons companheiros, ninguém pode negar...
Em alguns momentos você pode errar de século ou mesmo de alvo. Os sequestradores do embaixador americano, em setembro de 1969, quase o confundiram com o embaixador de Portugal. Quando houve um quebra-pau em Minas na passagem do Brizola por BH, um pouco antes do golpe de 64, José Maria Rabelo era protegido por um segurança que socava todo mundo aos gritos de "vamos acabar com esses comunistas!". José Maria agarrou-o pelos braços e disse: "Comunistas somos nós, comunistas somos nós". E ele respondeu: "Ah, bem".
A recepção que cubanos e petistas eletrônicos deram a Yoani não tem a graça do século passado. É um equívoco que envolve o destino de 11 milhões de cubanos e a reputação internacional do Brasil. No passado, pelo menos, havia alguma imaginação. Se um dia a esquerda encastelada no poder for obrigada a voltar a lutar nas ruas por uma causa justa, estará perdida. Imaginem quem será convencido por um grupo de pessoas, narizes de palhaço, gritando coisas do século passado... Ainda não perceberam que o século passou e levou consigo a Juventude Hitlerista, os Guardas Vermelhos, deixando-nos apenas com uns estridentes palhaços chamando de traidora uma jovem mulher cuja vida é o exercício de liberdade.
Eduardo Suplicy bem que tentou fazê-los discutir, mostrar que tudo aquilo era absurdo. O embaixador cubano chegou a perguntar se o senador não era da CIA. Suplicy da CIA? Só quem não o conhece poderia pensar nisso. E quem conhece um pouco a CIA sabe que, apesar de todas as suas loucuras, não seria ousada a esse ponto.
* Fernando Gabeira é jornalista
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
SERIA YOANI SÁNCHEZ A JOANA DARC DOS TEMPOS MODERNOS EM CUBA?
A cubana Yoani Sánchez era uma ilustre desconhecida da maioria dos brasileiros até desembarcar por aqui nesta semana quando militantes de esquerda, pró Castro, fizeram manifestações de repúdio a ela nos aeroportos e locais públicos da Bahia e Pernanbuco.
Segundo o Blog do Tarso, a blogueira cubana Yoani Sánchez é uma farsa. O blog afirma que uma investigação descobre fraude da blogueira cubana Yoani Sánchez. Velha opositora (Yoani tem 37 anos de idade enquando a ditadura Castrista já tem 54 anos) do governo cubano, a blogueira Yoani Sánchez teve um dos seus truques revelados pelo jornalista francês Salim Lamrani (Salim é ativista pró Cuba). De acordo com uma investigação conduzida por ele, o perfil de Yoani Sánchez no Twitter é artificialmente “bombado” por milhares de perfis falsos. Sob o nome de Generación Y, o mesmo do blog que a deixou famosa, o perfil de Yoani no microblog tem 214 mil seguidores. Considerada pela mídia estrangeira como “influente”, ela é seguida por apenas 32 cubanos ( não há acesso à internet ou celulares aos cidadãos cubanos em Cuba). (...)
Eu gostava, no passado, de ler as manifestações românticas sobre ideologias de esquerda e sua relação amorosa com Cuba, mas o mundo mudou e Cuba permanece lá, inerte, muito mais do que intacta, embora o volume de dólares no cambio negro seja maior que as divisas do país nos bancos ideológicos de Caracas e outras pesudo-republiquetas . O romantismo nos lega a imagem de um país
adormecido, com certa pureza de princípios e medicinas curativas, uma bela adormecida anestesiada da esquerda.
A ideologia é hoje um tempero residual no contexto político moderno, os embates tem outra faceta, e são bem mais cruéis e ainda muito medievais.
Talvez devessemos decretar Cuba uma API - Area de Proteção Ideologica, para que nenhuma outra ideologia penetrasse em seu território, como aliás tem sido, de dentro para fora, nestes 54 anos de Castrismo.
Mas e o povo de Cuba o que pensa? A pergunta é mais ampla: O que o povo, e não a ditadura cubana, quer para si?
Lembro-me do filme do Werner Herzog, o "Enigma de Kaspar Hauser", em que um sujeito aprisionado por anos que é libertado mas não entende o mundo exterior, porque não lhe foi permitido o acesso nem a escolha de como viver diferente do que tinha, pouca luz, um cavalo de madeira e um tratador que lhe dava rações de comida diárias, visto que era prisionéiro num porão desde seu nascimento.
Porque Yoani Sanchez e seu blog teria um viés tão maligno e perverso, alardeado por Salim Lamrani, se o ciberativismo do Julian Assange é comemorado por ele e pelas correntes de esquerdistas que a condenam. Para algumas coisas a ideia vale, para outras não.
Enfim, deixem a Yoani dizer o que pensa, porque se ela for a Jeanne d'Arc de Cuba, não serão os estudantes baianos ou pernambucanos que vão impedir isto, embora eu pense que isto está longe de acontecer pela falta de penetrabilidade de suas manifestações em sua terra natal.
A contrarevolução em Cuba é mais fácil de ser protagonizada pela Marina de La Riva ou a Glória Estefen do que pela Yoani, afinal ela acaba servindo ao Castrismo (que anda meio morto e pedindo água) para manter acessa, fora de Cuba especialmente, a ideia de qie a "Ilha" é o paraíso e de que que o mundo ainda é governado por ideologias.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
POR UM CINTURÃO VERDE*
O Cinturão Verde de Joinville
sofre uma intensa pressão para ocupação urbana por conta de três processo: O
primeiro é a falta de políticas públicas para assistência, apoio e ações que
desenvolvam uma agricultura e pecuária familiar com a valorização e apoio a agricultura
orgânica, manutenção ou incentivo às culturas que necessitam do solo rural numa
região que deixou de ser objeto de interesse dos governos municiais neste século; o segundo processo é o da invasão das
áreas rurais e áreas de preservação por diversos métodos e formas, todos
protagonizados pela falta de planejamento, fiscalização ou políticas públicas
que privilegiem o desenvolvimento sustentável e equilibrado do território. Do
Quiriri ao Jativoca, do Piraí ao Jarivatuba, do Morro do Amaral a Vigorelli e,
do Cubatão ao Rio Bonito, percebem-se ocupações irregulares e fortes indícios
de ilegalidades praticadas por grileiros e especuladores; o terceiro elemento
que impacta sobre o Cinturão Verde é a pressão da conurbação exercida pelos
municípios vizinhos, em especial ao Sul da cidade.
Este processo vem formando uma
mancha contínua e em expansão constante e desordenada de descaracterização de
um território típico que já foi importante produtor de arroz, horticultura,
pecuária leiteira (Joinville foi até a década de 70 o maior produtor de leite
de SC), banana, cana de açúcar, milho e outros produtos típicos da agricultura
familiar de pequenas propriedades.
Outro grande problema é que a
invasão do Cinturão Verde está sendo protagonizada sobre áreas de risco, ditas
baratas, sujeitas à inundações ou que se caracterizam como de preservação
permanente.
Cerca de 700 mil habitantes vivem
entre e no entorno do Cinturão Verde de Joinville que é uma importante reserva territorial
para o desenvolvimento sustentável do Município e da região, visto que alguns
municípios tem praticado políticas de ocupação do território sem qualquer
controle, destruindo a agricultura para dar lugar a especulação imobiliária, a
implantação de empreendimentos industriais, destituídos de planos ou ações de
compensação e mitigação. É como uma “corrida do ouro” que busca o Eldorado e
deixa um extenso rastro de destruição e passivos que serão, ao final, pagos
pela sociedade de diversas formas.
A pressão sobre o território do
maior centro industrial de Santa Catarina, responsável por quase 25 % do PIB
catarinense, fez crescer ao longos dos anos, esta mancha que avança em ondas
mais ou menos concêntricas, ocupando, nas suas periferias, os espaços que
oferecem menor resistência ao crescimento, comprometendo a qualidade do solo,
da água e do ar e impactando em sérios riscos à população que ali se instala.
O “Cinturão Verde de Joinville,
é também um entorno vegetal razoavelmente
preservado que sintetiza uma rica cultura e história. É, em parte, integrante
da Reserva de Biosfera da Mata Atlântica, mas com identidade própria, dadas as
suas peculiaridades do entorno urbanizado e antropizado. Fazendo parte desta
área incluem-se rios importantes como o Cubatão, Piraí e Palmital que são mananciais
fundamentais de água e, a complexa e importante área ambiental que compõe a
Lagoa do Saguaçu e Baia da Babitonga. Estas
áreas ambientais são ponto vital nas trocas gasosas entre o “organismo urbano”
- com seus domos de poluição - e as já referidas áreas verdes do Cinturão.
O Cinturão Verde de Joinville está
atualmente sob uma jurisdição de áreas rurais não urbanizáveis e portanto sem a
possibilidade de ocupação extensiva para fins de urbanização de qualquer tipo.
Dispõe de inúmeros mananciais e contém riquíssimo remanescente de Mata
Atlântica ainda preservados, com fauna e flora diversificados, mesmo estando
poucos quilômetros do centro da cidade.
Os mananciais do Cubatão e Piraí são responsáveis pelo abastecimento de água,
sendo a sua preservação de importância e relevância não só municipal como
regional, dada a quantidade de pessoas a que serve. É necessário frisar dizer
que o planejamento da ocupação racional e sustentável nas áreas do Cinturão
Verde é condição básica para a qualidade de vida dos habitantes de Joinville e,
essencial para a preservação da fauna e flora locais.
As diretrizes da UNESCO para a
Reserva da Biosfera falam em desenvolvimento de usos e práticas sociais
sustentáveis. Conseqüentemente, torna-se
necessário um planejamento de uso, de ordenamento e de implantação de
infraestrutura adequada à prossecução dessas metas, bem como sua inerente
manutenção e recuperação onde já se encontra degradada.
Se existem grande
empreendimentos que desejam se instalar em Joinville, poderia se imaginar políticas
de ocupação do solo urbano, baseadas nos instrumentos da política urbana
sugeridos no Estatuto das Cidades e no Plano Diretor de Desenvolvimento
Sustentável de Joinville, que proporcione,
ao mesmo tempo, uma redução na margem especulativa dos terrenos urbanos com
ações de compensação e mitigação em áreas de interesse a preservação no Cinturão
Verde. Existem muitos exemplos a serem
utilizados que lograram êxito e podem ser seguidos, fazendo um corte no
congelamento de ideias e propostas que tenham como meta o desenvolvimento
sustentável.
O Cinturão Verde de Joinville possui
também um vasto acervo de patrimônio histórico arquitetônico e natural que a ser
bem aproveitado poderá mudar, ou quem sabe manter, para sempre a sua vocação.
No entanto, poucos lhe reconhecem ou desejam este reconhecimento, nem mesmo como
uma identidade própria da cidade.
Rogério Ruschel diz: “As
comunidades, assim como as pessoas e empresas, têm “personalidade” e imagem.
Personalidade é o conjunto de características do objeto e a imagem reflete a
percepção de terceiros desta personalidade. O América, o Espinheiros e a Bahia,
por exemplo, têm “personalidades” próprias e imagens definidas. O Jardim Paraíso
e a Zâmbia têm “personalidades” próprias, mas a imagem pode ser difusa.
Aqui eu opino: antes de querer
destruir identidades como pretendem as instituições ligadas a indústria, à
construção civil e aos loteadores e especuladores, melhor seria reforça-las, reconhece-las
buscando valorizá-las e fazer que sua imagem deixe de ser difusa, pois uma
imagem positiva agrega valor aos locais e precisa ser construída a partir de
uma personalidade verdadeira, não como querem aqueles que executam a pressão
especulativa para ocupar territórios ditos “baratos”.
Quem visitou ou conhece Os arrozais
da Vila Nova, os riachos afluentes do Piraí, os manguezais, as margens do Rio
Cubatão, os caminhos que envolvem a Estrada da Ilha, do Sul, Hanaburgo, Morro do Amaral e tantos outras, sabe
que essa personalidade existe e é verdadeira. Quem acessar o Google Earth e
pairar por cima do Cinturão Verde de Joinville adjacente a Oeste, ao Leste ao
Sul e Norte da cidade, não tem como não ver que essa identidade existe.
Então, ao invés de tornar
urbanas, através das chamadas “Áreas de Transição”, aquilo que é rural e ocupar
estes territórios com industriais ou mal planejados condomínios, Joinville tem
uma oportunidade única para, de uma vez só, resolverem vários problemas:
1) executar as diretrizes que
suscitam a sustentabilidade expostas
claramente no Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável, privilegiando este
desenvolvimento sustentável integrando as políticas de desenvolvimento dos vários
municípios com uma supervisão de um conselho intermunicipal;
2) criar uma imagem sólida no Cinturão
Verde de apoio a agricultura orgânica e familiar, apoio a novas atividades
ligadas a ruralismo, ao turismo histórico e natural que se beneficiará com o
fluxo de visitantes, para usufruto das populações locais, estimulando o turismo
interno;3) criar um mercado de trabalho associado a essas atividades que beneficiará uma região carente de emprego;
4) preservar os recursos naturais do Cinturão Verde de Joinville, compromisso assumido na aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável;
5) estabelecer uma política de adensamento do território urbano atual para maximizar e otimizar a utilização da infraestrutura instalada, reduzindo o custo de manutenção da cidade;
6) utilizar os instrumentos da politica urbana como a Preenpção e a Outorga Onerosa como mecanismos de regulação do valor do território e compensações aos passivos gerados pela urbanização.
(*) Texto adaptado da
publicação “Desenvolvimento Urbano Sustentável – Uma proposta para o Cinturão
Verde” – Ecohabitar.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
POR QUE O kENNEDY PODE NÃO SER O FUTURO PREFEITO?
A possibilidade de que Kennedy seja o próximo prefeito de Joinville ainda é apenas uma possibilidade. Não porque ele seja a melhor opção. A ideia de que ele é um irresponsável, sem nenhum padrinho atemoriza muitos, quem é o louco que vai votar nele? Mas sua trajetória não é fruto absoluto de uma dádiva divina.
Alguns não gostam de orações para elevar o espírito das pessoas. São autossuficientes, soberbos o suficiente para não chamar Deus e pedir ajuda, até que o “caldo engrosse”. Ora, religião é uma praga espalhada na sociedade que corrompe a cabeça das pessoas mais “burras”.
Alguns segmentos se acostumaram a dar pouco para receber muito, enquanto o eleitor, aquele ignorante iletrado, teima em dar muito e receber pouco. Alguns grupos querem controle sobre o poder político, não se importam com a desordem, pobreza, os excluídos. Eles não são importantes. Importante é aquele que mantém o statusquo e as resenhas das socialytes. Isto não é “politicagem”, chamam de “competência”.
Entre as muitas críticas que o candidato Kennedy recebe no 2º. turno, (no primeiro turno ele foi ignorado) pelos afortunados que se dividiram entre outras opções, são os questionamentos à sua capacidade de trabalho e a sua competência como gestor , sabendo que para este grupo, ser empresário é estar a um passo do paraíso ou da canonização.
Simples dedução, se a maioria do não é empresário, então ela é “burra”, “ignorante”, não sabe escolher, não sabem considerar virtudes ou pré-requisitos. Estes escolhem qualquer um, afinal este é o espólio que receberam nos últimos ocupantes da Prefeitura. Se parece racista esta afirmação, deixo claro que ela não é minha.
E os funcionários públicos? Detestam gestores, gostam de demagogos, já se acostumaram a eles nos últimos 5 mandatos. Os inteligentes vão ser os que receberão um dos 900 cargos comissionados para sangue sugas, espólio dos antecessores. Funcionário público, este aproveitador do erário fica a dormir em seu posto, é outro “ignorante”, não vai votar em quem não pode lhe tirar seu lugar conquistado por concurso, ganhando salários pífios e o ônus da inoperância e má gestão dos políticos apadrinhados.
Há os eleitores que vendem o seu voto por cestas básicas, carradas de barro, emprego de terceiro escalão ou qualquer tipo de benefício semelhante. Outro espólio criado por quem passou. O povo é sábio, cobra nas eleições o que não ganhou nos quatro anos que passaram.
E o processo eleitoral? Um cidadão que tem mais renda, mora no centro, tem privilégio de desfrutar da cidade, tem plano de saúde em hospital privado tem seu voto igual ao de um ”ignorante”? Que absurdo! O voto deveria valer três vezes o de um ignorante. Se for empresário, deve valer 10 vezes mais. Vejam, os cidadãos privilegiados são mais inteligentes, porque alguém, não sabemos quem, criou este país desigual.
Parece óbvio que os eleitores que votaram no Kennedy são incultos, analfabetos, não sabem distinguir o bom do ruim, afinal nem são empresários! Não podem ter o mesmo valor no voto. Devia valer meio!
“Ignorantes” não frequentaram a universidade, ensino secundário, devem trabalhar e se sustentar . Se estudar vai passar fome e sono. São ignorantes e pronto! Quem ocupou as universidades públicas e gratuitas foram os inteligentes, deixando aos menos afortunados à exclusão da oportunidade para “subir na vida”. Absurdo ver este tal de Joaquim Barbosa chegar lá. Para alguns os “ignorantes” são igualados ao “porcos”, só ficam a grunir.
Há quem acredita que o caminho para o paraíso são as salas climatizadas, olhando para baixo a ver os que constroem o país, a suar, sem que haja qualquer sentimento de culpa ou compromisso para dividir, para equilibrar. Dispõe-se a comprar a consciência e, é mais fácil ganhar ou comparar de quem tem fome. Há os que tem fome por comida, há os que tem fome pelo poder por dinheiro.
As últimas vezes que os candidatos geraram esperanças no eleitorado e não cumpriram, deixando um vazio de carências. Não elevaram os índices sociais, mas elevaram a sua soberba e, como troco, angariaram derrotas seguidas. O troco veio, justamente dos “ignorantes”.
Triste esta situação em que o eleitor não tem o poder de selecionar “o cara”, para ser o candidato, e tem sempre como opção algum tirado do bolso na última hora como a grande solução para todos os problemas. Não é fácil a escolha do eleitor, este que decide e é sempre, ao final, o grande responsável pelas más escolhas.
É incrível que o eleitor, trabalhador que sofre nas filas dos hospitais, no aperto do ônibus, no custo da passagem, na imobilidade das ruas, fica a ouvir as cantilenas de tantos que já passaram, de alguns que nunca fizeram e, permanece nesta insistente burrice de escolher errado.
Eleitor não pode ser pobre, não pode sonhar, não pode rezar, não pode ter fé, não pode estudar, não pode ter saúde, não pode reclamar. Eleitor deve ficar em casa e pronto! Deixa que os inteligentes decidem tudo!
Este quadro não é obra dos que produzem as tintas, as molduras e as telas, que as carregam de um lado para outro e sequer tem oportunidade de contemplá-lo. Este quadro é obra de quem a pintou
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
ELEIÇÃO À BAIANA
Um amigo meu, baiano "arretado da pôrra", que é lobista e coringa político pelas terras nordestinas, disse-me certa vez que na Bahia a eleição é calculada da seguinte forma: Para ser eleito lá, caso o político candidato precise de 10 mil votos, ele multiplica cada "cabeça" (eleitor) por R$ 100,00 e, então:
10.000 "cabeças" (eleitores) x R$ 100,00/cabeça = R$ 1.000.000,000 - UM MILHÃO.
Destes 1 milhão, 500 mil vai para a campanha e, os outros 500 mil vai para o "fundo de emergência", caso o candidato não se eleja.
Pois bem, aqui em Joinville tivemos, no primeiro turno desta eleição de 2012, campanhas "à baiana". Alguns candidatos gastaram muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo, para tentarem se eleger, alguns mais até do que se investe na Bahia.
Teve candidato a vereador cuja companha custou de R$ 150,00 a R$ 250,00 por "cabeça". A maioria deles morreu na praia, ou porque subestimou a inteligência do eleitor, pensando serem eles baianos, ou porque gastaram mas não pagaram a conta.
Nossa semelhança com a Bahia é estar no Nordeste, de Santa Catarina. Até temos nosso coronel local, mas o povo já mostrou que está ficando cansado do cabresto.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
SOBRE MOBILIDADE SUSTENTÁVEL
Urbanistas
e cientistas sociais afirmam que a mobilidade é um dos fenômenos mais
importantes da sociedade contemporânea. Na medida em que a humanidade foi se
urbanizando, ocupando territórios, a mobilidade passou a ser um elemento fundamental
na dinâmica demográfica, no desenvolvimento econômico, congregando fenômenos
imprescindíveis para compreender as transformações no mundo atual. Acessar serviços ou bens ocupa hoje posição chave
no processo de urbanização e,
o modo como pessoas podem ou escolhem para se deslocar afeta diretamente a
qualidade de vida urbana.
Os
deslocamentos pendulares, espaciais de curta duração ou em grandes distâncias refletem
impactos cada vez mais significativos na dinâmica socioespacial envolvendo muitos
fatores e processos distintos que estão na base estrutural do sistema produtivo
e no cotidiano dos cidadãos, englobando o sistema de transportes (de pessoas e
mercadorias), a gestão pública do território, o desenho urbano, as interações
espaciais e as dinâmicas demográficas específicas (estrutura familiar,
migração, ciclo vital).
Então, quais são os grandes desafios que devemos
enfrentar na mobilidade urbana?
Joinville
é uma cidade com um nível elevado de acumulação e concentração de atividades
econômicas sobre complexas estruturas espaciais urbanas, muitas sem conexões,
que deveriam estar suportadas por eficientes sistemas de transporte. Na medida
em que a cidade cresce, maior é a complexidade e o custo das soluções assim
como o potencial para que apareçam rupturas.
O
primeiro passo para achar soluções é reconhecer nossas fragilidades, passando
por um processo de pesquisa, estudo, planejamento e debate sobre o futuro que
desejamos. Sem estas bases reconhecidas deixamos de praticar soluções para
sistemas de transporte eficientes à livre circulação de pessoas e bens,
essencial para a prosperidade econômica e melhoria da qualidade de vida. Passada
a primeira década deste século, não dispomos de um plano de mobilidade urbana,
instrumento fundamental para a construção daquilo que hoje chamam de “Cidade
Inteligente”. Ficamos então à deriva, sem soluções eficazes, senão um rosário
de promessas não cumpridas.
Hoje
vivenciamos a apropriação integral do sistema viário pelo automóvel em
detrimento de sistemas de transporte de massa, coletivos e eficientes. Os
espaços de uso público, especialmente os passeios, são territórios órfãos
sujeitos aos mal-tratos e
as inadequadas condições de mobilidade e acessibilidade urbana, que também se constituem
em barreiras efetivas para inclusão social. A cidade há muito não recebe
investimentos estruturantes e navega num “dolce
far ninte” a espera do milagre.
Nos
raros debates observo a ausência de conhecimento, informação, transparência
sobre o tema, motivo que protela soluções para cada 4 anos, dando a impressão que
ninguém está disposto a assumir compromissos, que devem ser mútos (governo e
sociedade).
O tema é vasto, trata de economia, meio ambiente, saúde, educação, tecnologia,
etc, mas existem alguns tópicos para abordar a mobilidade urbana aos quais não
devemos fugir:
·
Uso do solo – a
questão da mobilidade não pode ser fragmentada, somente sobre a circulação de
veículos, deve ter como foco as pessoas, à organização territorial e à
sustentabilidade. O conceito de mobilidade se apoia na integração do
planejamento do uso do solo com o dos transportes;
·
A transferência
modal e a intermodalidade – Seja para pessoas ou mercadorias, a possibilidade de
realizar transferências modais pode ser uma saída para a mobilidade urbana. Por
exemplo: o parqueamento (usuários dos automóveis para transporte coletivos em
áreas periféricas ao centro); o modo cicloviário com o sistema de transporte coletivo;
diversas modais integradas à modais de maior capacidade, etc. No transporte de mercadorias,
o fracionamentos e transbordos que facilitem a logística de distribuição,
reduzindo congestionamentos e o custo dos insumos.
·
O transporte
urbano - o transporte público, não motorizado ou sustentável deve ter
preferncia sobre o transporte motorizado individual. A postergação do plano de
mobilidade retém novas formas de operação para os sistemas coletivos nos
colocando em desvantagem. Os automóveis tomam as ruas e, o transporte coletivo
perde importância. Necessitamos de corredores exclusivos, rede cicloviária, felxibilização
nos transbordos, modernização dos equipamentos públicos, veículos de transporte
voltados às pessoas, que devem ser tratadas como “clientes”, num serviço
público que é essencial e vital para a inclusão social e para o desenvolvimento
econômico.
·
Inovação e
Sustentabilidade - as soluções de transporte devem buscar novas tecnologias
voltadas ao homem, modos mais limpos, mais silenciosos e eficazes, de melhor
coesão e de resposta às rápidas mudanças demográficas.
·
Conectividade -
A efetiva integração de diferentes redes da cadeia logística de abastecimento e
dos transportes de pessoas é essencial para que haja uma mobilidade eficiente e
sustentável.
Por
fim, os desafios da mobilidade urbana não se resolverão apenas no âmbito técnico.
O conflito de interesses é inevitável, seja na disputa do orçamento público, na
decisão de localização das atividades na cidade, no uso da propriedade urbana
ou na concessão dos serviços públicos. Sendo assim, é necessário o
fortalecimento e aperfeiçoamento das instituições democráticas, interlocução
política, a efetiva participação social na formulação, acompanhamento e avaliação
das políticas públicas para a mobilidade.
Texto publicado no Jornal A Notícia em 22 de julho de 2012
quarta-feira, 9 de maio de 2012
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